Uma ode à Baz Luhrmann por Elisa Capdeville
O
cinema pode servir para várias coisas. Contar histórias reais,
contar histórias fictícias, tragédias, comédias, romances, pode
denunciar, criticar ou só existir como uma pura expressão da arte
pela arte. Essa sétima arte junta imagem e som pra trazer ao
espectador sensações que ele não acha no cotidiano. Cada um vai
procurar tipos de sensações diferentes, como o medo nos filmes de
terror, a descoberta nos documentários, ou a sensação de
imaginar-se na pele de um personagem em situações que você
gostaria de vivenciar.
Particularmente,
eu gosto de filmes que me trazem aquela sensação inexplicável, uma
mistura de prazer e adrenalina que te faz ficar em uma espécie de
transe na hora que segue o fim da obra. Aqueles filmes que quando
você sai da sala de cinema, demora um tempo até você entender que
voltou a realidade. Não é raro achar filmes assim, mas também não
os encontro todo dia.
Até
o dia em que eu descobri Baz Luhrmann.
Pequeno
parêntese: tenho que agradecer à minha mãe que me passou
provavelmente metade da minha cultura cinematográfica, mostrando
filmes essenciais que ela tinha em DVD. Ela aguardava ansiosamente o
momento em que eu seria “grande o suficiente” para assistir
alguns deles (ela foi um pouco impaciente e com 9 anos de idade meu
filme favorito era sobre hippies que usam drogas, mas isso não vem
ao caso). Não me arrependo de ter visto nenhum dos filmes que ela
falou que eu iria gostar, pois muitos eram obras-primas.
É
aí que chega o primeiro filme desse diretor australiano que eu vi:
Moulin
Rouge! (2001).
Eu me lembro de ver o DVD guardado em um canto e eu ficava intrigada
pensando, no meu raciocínio infantil, “espero que não seja um
filme com mulheres seminuas dançando”. Relaxa, pequena Elisa. Esse
seria apenas um dos seus filmes favoritos no futuro.
O
filme começa em sépia, com uma música quase lúgubre e cenas do
bairro boêmio de Montmartre em Paris, seguido pela visão de o que
parece um escritor que traz uma história trágica para contar. Mas
essa primeira cena já era diferente de tudo que eu tinha visto
antes. Cinco minutos depois, o filme se transforma em cenas coloridas
e brilhantes, closes das saias balançantes das dançarinas no meio
de uma confusão de homens, uma mistura de contemporaneidade e Belle
Époque,
cenas aceleradas, outras breves em câmera lenta, enquanto toca
Christina Aguilera e Nirvana. É, eu só pensava “não sei que
porra ta acontecendo, mas eu tô em outro mundo e tô adorando”. Um
filme surpreendente, original, com uma trilha sonora excepcional, a
mistura certa de romance, comédia e drama. Assim como Romeu
+ Julieta (1996),
estrelando Leonardo Dicaprio em um de seus melhores papéis.
E
em todas as suas outras obras podemos encontrar essa vibe
meio
psicodélica, irreal, onírico, o tempo passando mais rápido ou mais
devagar. Baz Luhrmann traz um toque próprio tanto nos seus filmes
quanto produções musicais, seu ar excêntrico transmitido na
direção de arte e montagem. Algumas pessoas não curtem esse ritmo
diferente que os seus filmes possuem, e entendo que possa ser
considerado “estranho”. Mas no meu caso, ele trouxe aquilo que
procuro: aquela
sensação
mencionada no começo. Desde Moulin
Rouge!,
reconheço uma obra sua desde os seus primeiros minutos. Até The
Great Gatsby (2013),
que
é uma obra mais comercial que as outras tem um toque especial
Luhrmanniano que dá pra perceber, sobretudo nas cenas das festas na
casa do protagonista.
Eu
aprecio a forma com que Luhrmann traz uma modernidade alternativa do
mainstream
americano,
e a adapta perfeitamente a outras épocas como a Belle
Époque
(em
torno dos anos 1890-1900) e os anos loucos da pós-primeira-guerra.
Além disso, considero seu filme Romeu
+ Julieta
a melhor adaptação cinematográfica de Shakespeare que eu tenha
visto até agora, reorganizada no mundo contemporâneo e que mesmo
assim consegue conservar perfeitamente a história clássica. Palmas
suplementares por conseguir manter o texto original da peça em uma
Verona dos anos 80-90. Mais uma vez, uma trilha sonora espetacular,
que contém bandas como Radiohead
e
The
Wannadies.
Luhrmann
traz a arte na sua forma pura da estética, reunindo música, poesia,
dança e beleza. Como dizem os artistas no próprio filme de Moulin
Rouge!,
“Truth,
Beauty, Freedom and Love” (“verdade, beleza, liberdade e amor”),
são as características da obra desse diretor. Filmes essenciais
para os amantes de cinema, para chorar, rir, e sonhar.
Obras
favoritas:
-
Moulin
Rouge!
-
Romeo + Juliet
-
Everybody Is Free (To Wear Sunscreen)
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