domingo, 24 de junho de 2018

Ode à Baz Luhrmann

Uma ode à Baz Luhrmann por Elisa Capdeville



O cinema pode servir para várias coisas. Contar histórias reais, contar histórias fictícias, tragédias, comédias, romances, pode denunciar, criticar ou só existir como uma pura expressão da arte pela arte. Essa sétima arte junta imagem e som pra trazer ao espectador sensações que ele não acha no cotidiano. Cada um vai procurar tipos de sensações diferentes, como o medo nos filmes de terror, a descoberta nos documentários, ou a sensação de imaginar-se na pele de um personagem em situações que você gostaria de vivenciar.


Particularmente, eu gosto de filmes que me trazem aquela sensação inexplicável, uma mistura de prazer e adrenalina que te faz ficar em uma espécie de transe na hora que segue o fim da obra. Aqueles filmes que quando você sai da sala de cinema, demora um tempo até você entender que voltou a realidade. Não é raro achar filmes assim, mas também não os encontro todo dia.


Até o dia em que eu descobri Baz Luhrmann.


Pequeno parêntese: tenho que agradecer à minha mãe que me passou provavelmente metade da minha cultura cinematográfica, mostrando filmes essenciais que ela tinha em DVD. Ela aguardava ansiosamente o momento em que eu seria “grande o suficiente” para assistir alguns deles (ela foi um pouco impaciente e com 9 anos de idade meu filme favorito era sobre hippies que usam drogas, mas isso não vem ao caso). Não me arrependo de ter visto nenhum dos filmes que ela falou que eu iria gostar, pois muitos eram obras-primas.


É aí que chega o primeiro filme desse diretor australiano que eu vi: Moulin Rouge! (2001). Eu me lembro de ver o DVD guardado em um canto e eu ficava intrigada pensando, no meu raciocínio infantil, “espero que não seja um filme com mulheres seminuas dançando”. Relaxa, pequena Elisa. Esse seria apenas um dos seus filmes favoritos no futuro.


O filme começa em sépia, com uma música quase lúgubre e cenas do bairro boêmio de Montmartre em Paris, seguido pela visão de o que parece um escritor que traz uma história trágica para contar. Mas essa primeira cena já era diferente de tudo que eu tinha visto antes. Cinco minutos depois, o filme se transforma em cenas coloridas e brilhantes, closes das saias balançantes das dançarinas no meio de uma confusão de homens, uma mistura de contemporaneidade e Belle Époque, cenas aceleradas, outras breves em câmera lenta, enquanto toca Christina Aguilera e Nirvana. É, eu só pensava “não sei que porra ta acontecendo, mas eu tô em outro mundo e tô adorando”. Um filme surpreendente, original, com uma trilha sonora excepcional, a mistura certa de romance, comédia e drama.  Assim como Romeu + Julieta (1996), estrelando Leonardo Dicaprio em um de seus melhores papéis.


E em todas as suas outras obras podemos encontrar essa vibe meio psicodélica, irreal, onírico, o tempo passando mais rápido ou mais devagar. Baz Luhrmann traz um toque próprio tanto nos seus filmes quanto produções musicais, seu ar excêntrico transmitido na direção de arte e montagem. Algumas pessoas não curtem esse ritmo diferente que os seus filmes possuem, e entendo que possa ser considerado “estranho”. Mas no meu caso, ele trouxe aquilo que procuro: aquela sensação mencionada no começo. Desde Moulin Rouge!, reconheço uma obra sua desde os seus primeiros minutos. Até The Great Gatsby (2013), que é uma obra mais comercial que as outras tem um toque especial Luhrmanniano que dá pra perceber, sobretudo nas cenas das festas na casa do protagonista.


Eu aprecio a forma com que Luhrmann traz uma modernidade alternativa do mainstream americano, e a adapta perfeitamente a outras épocas como a Belle Époque (em torno dos anos 1890-1900) e os anos loucos da pós-primeira-guerra. Além disso, considero seu filme Romeu + Julieta a melhor adaptação cinematográfica de Shakespeare que eu tenha visto até agora, reorganizada no mundo contemporâneo e que mesmo assim consegue conservar perfeitamente a história clássica. Palmas suplementares por conseguir manter o texto original da peça em uma Verona dos anos 80-90. Mais uma vez, uma trilha sonora espetacular, que contém bandas como Radiohead e The Wannadies.


Luhrmann traz a arte na sua forma pura da estética, reunindo música, poesia, dança e beleza. Como dizem os artistas no próprio filme de Moulin Rouge!,Truth, Beauty, Freedom and Love” (“verdade, beleza, liberdade e amor”), são as características da obra desse diretor. Filmes essenciais para os amantes de cinema, para chorar, rir, e sonhar.

Obras favoritas:
- Moulin Rouge!
- Romeo + Juliet
- Everybody Is Free (To Wear Sunscreen)

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