domingo, 10 de junho de 2018

Bate-papo com Davi Kopenawa, Espaço Cultural BNDES (19/04/2018)

Um relatório completo do incrível bate-papo com Davi Kopenawa no Espaço Cultural BNDES (19/04/2018). Tradução em francês também disponível abaixo do texto em português.
   Davi Kopenawa, líder indígena. Fotografia por Suzana Piscitello

Bate-papo com Davi Kopenawa, Espaço Cultural BNDES, Rio de Janeiro, 19 de abril de 2018.

Transcrição: Bruna Sathler.

Texto de apresentação por Bruna Sathler:

“Não sou índio, sou yanomami do Brasil” diz Davi Kopenawa após alguns minutos de discurso, “e vocês não querem ser amigos da gente”.

O xamã do povo amazônico Yanomami é de fato um grande defensor dos direitos indígenas no país: ex-tradutor da FUNAI (Fundação Nacional do Índio) e diretor da Associação Hutukara, devota à promoção e à defesa da cultura de seu povo, Davi Kopenawa não para, desde os anos 1980, de criar laços entre o mundo indígena e o mundo branco, atraindo a atenção nacional e internacional para as ameaças que o “povo da mercadoria” faz sentir aos “povos da floresta”.

Foi dia 19 de abril (dia do índio no Brasil) quando nós, alunos da terminale ES/L (3o ano do ensino médio econômico-social e literário do Liceu Molière), tivemos a chance de testemunhar uma emocionante fala dessa grande personalidade que é Davi Kopenawa, no espaço cultural BNDES, no Centro do Rio de Janeiro. No contexto de nossa saída escolar organizada por nosso professor de filosofia (Julien Pallotta), nós estudamos trechos da obra de Kopenawa com o antropólogo Bruce Albert, A Queda do Céu, estudo que nos preparou para essa fascinante “contra-antropologia” que é para nós, brancos, a visão do mundo através dos olhos do índio.

Vocês encontrarão abaixo uma tomada de notas em português do debate occorrido no dia 19 de abril, onde foram conservadas as deliciosas maneiras de falar de um brasileiro para quem a língua europeia não é a sua- Davi é um Yanomami, falante da língua Yanomami, brasileiro, testemunha de um “alter-Brasil”.

Bate-papo

Qual é o papel dos pajés para o céu não cair?

Mostrar o que aconteceu quando eu era pequeno, é o papel dos xapiri (espíritos da floresta) na comunidade. Segurar o céu para não cair outra vez - já caiu, e Omama (deus criador yanomami) fez outro. Esse é o trabalho dos xapiri, dar saúde e segurar o céu.

Quais são as consequências da chegada das religiões brancas para o povo da floresta?

São muitas igrejas, as dos brancos. Os pastores, os padres, chegam na aldeia e dizem que é porque Deus manda. Falam bonito, ficam amigos. Mas quando montam uma igreja, mudam de ideia. Os religiosos querem acabar com os nossos xapiri, dizem que é coisa de “satanás”. Os pastores querem acabar com a nossa língua, para virar todo mundo crente. Pastor fala coisa forte para o índio, fala “olha, vocês estão errados. Isso é coisa de Satanás, vocês vão para o inferno”.

Quando nasce na aldeia uma criança com uma doença incurável que ninguém sabe o que é, e mesmo após todas as tentativas de curá-la ela continua doente e viva, o que vocês fazem?

Nós trabalhamos. Talvez a gente cura. Se o espírito mau pegou a sombra dele, o pajé trabalha para buscar. Eu trabalho às vezes três dias, às vezes eles morrem, às vezes a gente acha. O pajé tem que ser forte, conhecer as doenças. Quando não conhece, é o médico que a gente chama. Se o médico não conhece, eu curo, porque conheço as doenças da floresta e essas eu posso curar. Doença de branco, que vem andando com branco, câncer, malária, tuberculose, é pra médico branco.

Julien Pallotta e Davi Kopenawa. Fotografia por Suzana Piscitello

Qual é o papel da mata na educação dos yanomami?

A escola é a floresta. A gente não tem escola igual os brancos, não. Quando a criança cresce, a gente não ensina. A escola é nossa experiência, conhecimento tradicional. Professor é pai, mãe e irmão. Com uns dois anos, a gente ensina [a criança], com cuidado, a começar a andar, conhecer a mata. Com quatorze anos, o filho tem que saber andar longe, sozinho, saber caminhar, caçar, pescar. É assim que yanomami continua sendo yanomami: pai ensina o caminho certo.

Pra você manter a conexão com os xapiri, você bebe yãkõana quantas vezes por dia?

Yãkõana (resina ou fragmentos da casca interna da árvore Virola secados e pulverizados) é muito forte. Yãkõana mata se você não souber tomar certo, deixa o coração parar. Yãkõana mostra o caminho dos xapiri, com sofrimento. No início, você tem que tomar muito, várias vezes por dia, para limpar o corpo. Eu gostei muito na primeira vez que eu tomei com o grande pajé, porque eu quero chegar à sabedoria. Quando tava iniciando, eu tomava quatro vezes por dia. Quando tem uma pessoa muito doente, não tem hora pra parar de tomar yãkõana. Das 6h até as 6h da tarde. Ficamos duas, três semanas tomando até conseguir salvar a vida da pessoa.

Agora eu estou longe, tenho que tomar mais. Eu tô com muita saudade da yãkõana, ela tá guardada lá esperando.

Você disse no seu livro que homem branco não sabe sonhar. Como sonhar ajuda a saber, e como pode ajudar no processo de cura da vida e da Terra?

A floresta tá ligada com a gente pelos sonhos. Se você não sonha nada, você não sabe sonhar. Tem que sonhar pra ser homem inteligente. Sonhar traz conhecimento, sabedoria, pra passar para os outros. Sonho ruim também.

Eu também sonho, sonho bom e sonho ruim. Mas tem que saber escolher pra saber qual sonho é o melhor para a gente. Homem branco não sabe sonhar.

Sonho é a floresta, e o napë não quer floresta, quer cidade. O povo da mercadoria dorme na cama, sem rede. Nós não, nós dormimos na rede. É igual antena. Sem antena o rádio não fala. Com uma árvore de cada lado que segura a rede, tem uma antena. Então o sonho vem, vem de longe e chega ali. Em uma cama não tem como ter sonho, porque não tá ligado a nada.

O que você pensa do turismo em parte da terra Yanomami?

Eu acho que se os napë (o homem branco) costumam, têm que continuar a fazer consulta, perguntar primeiro. Turista é gente ingrata, invasor. Eu acho bom conversar primeiro. O que você quer, ajudar ou recolher planta?

Se você quer conhecer a realidade da floresta, é bom. Mas tem que respeitar. Mas gente demais estraga a alma da floresta.

Tem turista que vem de longe, dos Estados Unidos interessado só em coisa bonita, e traz até máquina para examinar o que tem embaixo da terra, ver se tem ouro e diamante. Se você quer preservar, vamos lutar juntos. Se vocês querem ajudar minha luta, é bonito. Para ajudar as gerações futuras.

Mulheres podem ser pajés?

Tem mulher pajé, mas menos do que homem. É quase sempre mulher filha de pajé. O pai passa pra filha. Tem pouco, não é muito não.

Como você acha que a gente pode impedir que o céu caia de novo, na sociedade atual? Como podemos romper a bolha que faz com que as pessoas não vejam o outro como irmão?

Vocês precisam ajudar nós, yanomamis. Fazer manifestação, vocês da cidade são muitos. Precisa reunir pra chamar a atenção que o homem está maltratando nós.
Não precisa ficar com medo não, índio é brasileiro, índio é guardião da floresta. Escrevam carta.

As causas sociais estão sob ataque aqui no Rio. O que ameaça vocês?

Aqui, é tipo aldeia. Quem tá dirigindo? Político público nacional, gente que quer riquezas. O nosso inimigo, são os garimpeiros. O rico tá aqui, querendo ouro, enquanto nós brigamos, e os garimpeiros querem matar nós.

Em que medida é importante que os indígenas que vivem na cidade se afirmem?

Isso é preocupante, está acontecendo. Yanomami sai da comunidade pra chegar na cidade e tem gente que tá na aldeia que é de lá. A cultura de vocês é muito forte pra nós. Costume de napë é tirar de índio. É muito triste para nós, eu tô preocupado. É histórico, e continua funcionando que nem aconteceu aqui no Rio, vocês tiraram os índios daqui e agora vocês chegaram lá na nossa aldeia. Napë chega e fala, “lá na cidade é melhor que no mato, deixa de ser índio”. Eu fui tratado assim, mas retornei. Mas outros não querem. “Você não pode ficar contra garimpeiro, garimpeiro dá dinheiro, comida.” É por isso que eu tô aqui lutando pra não deixar isso acontecer.

Como nós, brancos, podemos aprender a largar a cidade e ir à floresta?

É uma pergunta difícil. Se vocês começarem a se preocupar de nós, dizer para o índio que a cidade não é bom, vocês ajudam todo mundo. Manda por escrito para a Associação. Fala, vamos nos unir, nos conhecer, pra ficar tudo unido. Os brancos às vezes só querem ter a mão cheia de dinheiro e só pensa isso, só quer matar. Então é importante criar uma força brasileiro-indígena - porque indígena é brasileiro.

Qual é a noção de índio referente a Deus?

[risos]  Deus é nosso tudo. Teoria faz bem pra nós, até. Deus é tudo, a floresta, a chuva, a claridade. Eu conheço Omama. Deus é nome ruim de longe - Omama é a floresta. Eu nunca o vi, mas eu sonhei. Ele é bom. É difícil entrar em contato ele, ele ajuda só quando ele quer. Quando ele quer ele ajuda, quando ele não quer ele não ajuda. Omama dá tudo para nós. Cada pessoa que nasce perto da floresta conhece - vocês, jovens, que nasceram todos na cidade não conhecem Omama.

O que você acha dos delírios, dos ovos-bomba do Cabelo (artista responsável pela exposição no Espaço Cultural BNDES) ?

Quando eu cheguei aqui, encontrei esse ovo-bomba. A minha visão que eu tive sonhando, esse ovo primeiro, como pajé, como Yanomami, é ovo de onça. Ovo de onça é o início do mundo. Como eu sonhei, teve um ovo de onça na cachoeira, e encontraram o ovo rosnando. Falaram “esse ovo é de onça, vamos levar pra casa”. Aí o pajé falou, “esse ovo é de onça, então prepara pra cozinhar que eu vou comer esse ovo de onça”. Atrás da casca, se formou onça.

Como eu sonhei, viram certo pra chamar a atenção de vocês, mostrar que tá destruindo nossas cachoeiras, pedir para não fazer mais. Ninguém nasceu sabendo, vamos aprender juntos, com arte, com xapiri, com professor.

Você acredita em reencarnação?

Na cultura yanomami, é diferente dos napë. Quando yanomami morre, não vai na terra, não. A gente costuma cremar e ir lá em cima. A alma vai embora, para outro lugar, onde Omama está morando, em outro planeta. O pajé que morre vai embora, e depois volta, pra continuar protegendo os yanomami e vocês também, continuar trabalhando igual trabalhava quando era vivo.

Vocês na cidade, quando morrem enterram. Eu não acho bom, não, mas é o costume de vocês. A gente pajé volta, em outra forma.

Como você viveu a montagem do livro A Queda do Céu, como foi a descoberta da antropologia para o povo yanomami?

Esse livro foi pensado para contar como aconteceu, setenta anos passados. Para mim, esse livro é divulgar problemas, doenças, invasão de estrada, exército… esse livro foi elaborado para andar, e é por isso que ele é tão importante aqui no Brasil e fora. É um livro importante, e triste. Ele tá andando para o Brasil e para fora, divulgando os problemas, para você ler e achar bonito, estar interessado. É importante você continuar sempre lendo e se perguntando. Auê?


Julien Pallotta e alguns membros do Coletivo Amador (da esquerda para direita: Julien Pallotta, Tomaz Lamego, Bruna Sathler, Miguel Boisseleau e Luca Szaniecki). Fotografia por Suzana Piscitello


Entretien avec Davi Kopenawa, Espace Culturel BNDES, Rio de Janeiro, 19 avril 2018.

Traduction française de Luca Szaniecki, révisée par Julien Pallotta.

Texte de présentation par Bruna Sathler:

“Je ne suis pas indien, je suis Yanomami du Brésil”, dit Davi Kopenawa, après quelques minutes de discours, “et vous ne voulez pas être amis avec nous”.

Le chamane du peuple amazonien Yanomami est en effet un grand défenseur des droits indigènes dans le pays: ex-traducteur de la FUNAI (Fondation Nationale de l’Indien) et dirigeant de l’Association Hutukara, consacrée à la promotion et à la défense de la culture de son peuple, Davi Kopenawa ne cesse, depuis les années 1980, de faire le lien entre le monde indigène et le monde blanc, attirant des regards aussi bien nationaux qu’internationaux sur les menaces que le “peuple de la marchandise” fait peser sur les “peuples de la forêt”.

C’est le 19 avril (Jour de l’Indien au Brésil) que nous, les élèves de terminale ES/L, avons eu la chance d’être les témoins d’une une très émouvante intervention de cette grande personnalité qu’est Kopenawa, à l’espace culturel BNDES dans le Centre de Rio de Janeiro. Dans le cadre de cette sortie scolaire menée par notre professeur de philosophie, nous avions étudié des extraits de l’ouvrage de Kopenawa avec l’anthropologue français Bruce Albert, La Chute du Ciel, étude qui nous a préparés à cette fascinante “contre-anthropologie” qu’est, pour nous les blancs, la vision du monde à travers les yeux d’un indigène.

Vous trouverez ci-dessous une prise de notes en portugais de l’entretien accordé le 19 avril, où ont été conservées les délicieuses façons de parler d’un brésilien pour qui la langue européenne n’est pas la sienne - Davi est un Yanomami, parlant la langue Yanomami, brésilien, témoin d’un “alter-Brésil”.

L’entretien

Quel est le rôle des pajés [chamanes] pour que le ciel ne tombe pas ?

Montrer ce qui s’est passé quand j'étais petit, c’est le rôle des xapiri (les esprits de la forêt) dans la communauté. Tenir le ciel pour qu’il ne tombe pas à nouveau ‒ il est déjà tombé et Omama (démiurge yanomami) en a fait un autre. C’est cela, le travail des xapiri, procurer la santé et tenir le ciel.

Quelles sont les conséquences de l’arrivée des religions blanches pour le peuple de la forêt ?

Elles sont nombreuses, les églises des blancs. Les pasteurs, les prêtres, arrivent au village et disent que c’est parce que c’est Dieu qui les envoie. Ils parlent bien, deviennent amis. Mais quand ils construisent une église, ils changent d’idée. Les religieux veulent en finir avec nos xapiri, disent qu’ils sont l’oeuvre de Satan. Les pasteurs veulent en finir avec notre langue, pour rendre tout le monde croyant. Pasteur parle durement avec l’indigène, il dit: “Regardez, vous avez tort. Ceci est l’oeuvre de Satan, vous irez en Enfer”.

Quand naît un enfant porteur d’une maladie incurable que personne ne connaît, et que même après toute tentative de le soigner,  il est encore en vie et malade, que faites-vous ?

Nous travaillons. Peut-être que nous parvenons à le soigner. Si le mauvais esprit a pris son ombre, le pajé travaille pour la retrouver. Je travaille, parfois jusqu’à trois fois par jour, parfois ils meurent, parfois on retrouve [son ombre]. Le pajé doit être fort, connaître les maladies. Quand il ne les connaît pas, c’est le médecin que l’on appelle. Quand le médecin ne la connaît, je le guéris car je connais les maladies de la forêt et celles-là, je peux les soigner. Maladie de blanc, qui vient en marchant avec les blancs, le cancer, le paludisme, la tuberculose, c’est pour le médecin blanc.

Quel est le rôle de la forêt dans l’éducation yanomami ?

L’école est la forêt. On n’a pas d’école comme celle des blancs, non. Quand l’enfant grandit, on ne lui enseigne pas [de savoirs livresques]. L’école est notre expérience, notre savoir traditionnel. Le professeur est le père, la mère, le frère. A 2 ans, on apprend à l’enfant avec prudence, à commencer à marcher, à connaître la forêt. A 14 ans, l’enfant doit savoir marcher loin tout seul, savoir marcher, chasser, pêcher. C’est comme cela que le yanomami continue à être yanomami: le père enseigne le droit chemin.

Pour maintenir votre connexion avec les xapiri, vous consommez de la yãkõana combien de fois par jour ?

La yãkõana (résine ou fragments de la croûte interne de l’arbre de ferrule Virola surinamensis séchés et pulvérisés) est très puissante. La Yãkõana tue si on n’en prend pas correctement, elle arrête le coeur. La Yãkõana montre le chemin des xapiri avec souffrance. Au début, il faut en prendre beaucoup, plusieurs fois par jour, pour nettoyer le coeur. J’ai beaucoup aimé la première fois que je l’ai prise avec le grand pajé, car je voulais atteindre la sagesse. Quand je débutais encore, j’en prenais 4 fois par jour. Quand il y a quelqu’un de malade, il n’y a pas le temps pour arrêter d’en prendre. De 6h du matin à 6h de l’après-midi. Nous restons deux, voire trois semaines en en prenant jusqu’à sauver la vie de la personne.

Maintenant je suis loin, je dois en prendre plus. La yãkõana me manque, elle est gardée là-bas, et m’attend.

Vous dites dans votre livre que l’homme blanc ne sait pas rêver. Comment rêver contribue au savoir, et comment est-ce que cela peut contribuer au processus de guérison de la vie et de la Terre ?

La forêt est liée à nous par les rêves. Si tu ne rêves pas, tu ne sais pas rêver. Il faut rêver pour être un homme intelligent. Rêver nous apporte la connaissance, la sagesse, pour la transmettre aux autres. Les cauchemars aussi.

Je rêve moi aussi, j’ai de bons et de mauvais rêves. Mais il faut savoir choisir pour savoir quel rêve est le meilleur pour nous.  L’homme blanc ne sait pas rêver.

Rêver, c’est la forêt, et le napë (l’homme blanc) ne veut pas la forêt, il veut la ville. Le peuple de la marchandise dort dans le lit, sans hamac. Nous, nous dormons dans le hamac. C’est comme une antenne. Sans antenne, la radio ne parle pas. Avec un arbre de chaque côté pour tenir le hamac, il y a une antenne. C’est alors que le rêve vient, vient de loin et arrive là. Dans un lit, rêver est impossible car le lit n’est lié à rien.

Que pensez-vous du tourisme dans les terres Yanomami ?

Je pense que si les napë ont l’habitude d’en faire, ils doivent continuer à consulter, commencer par demander. Les touristes sont des ingrats, des envahisseurs. Je pense qu’il faut discuter avant. Qu’est-ce que vous voulez, aider ou récolter des plantes ?

Si vous voulez connaître la réalité de la forêt, c’est bien. Mais il faut respecter. Mais s'ils sont trop nombreux, les gens abîment l'âme de la forêt.
Il y a des touristes qui viennent de loin, des Etats-Unis, seulement intéressés par des jolies choses, et apportent même des machines pour examiner le sous-sol et voir s’il y a de l’or ou des diamants. Si vous voulez préserver la forêt, luttons ensemble. Si vous voulez aider ma lutte, c’est beau. Pour aider les générations futures.

Les femmes peuvent être pajés ?

Il y a des femmes pajés (Chamanes), mais elles sont moins nombreuses que les hommes. C’est presque toujours une femme qui est fille de pajé. Le père transmet à la fille. Elles sont peu nombreuses, cela ne fait pas beaucoup, non.

Comment pensez-vous que nous pouvons empêcher que le ciel tombe à nouveau dans notre société actuelle ? Como peut-on rompre la bulle qui fait que les personnes ne voient pas l’autre comme un frère ?

Vous devez nous aider, nous les yanomamis. Manifestez, vous de la ville vous êtes nombreux. Il faut se réunir pour attirer l’attention de celui qui nous maltraite.
Il ne faut pas avoir peur, l’indien est brésilien, il est le gardien de la forêt. Écrivez des lettres.

Les causes sociales sont attaquées ici à Rio. Qu’est-ce qui vous menace ?

Ici c’est comme un village. Qui dirige ? Les hommes politiques publics nationaux, ceux qui veulent les richesses. Nos ennemis sont les orpailleurs. Le riche se trouve ici, veut de l’or, pendant que nous nous battons, et les orpailleurs veulent nous tuer.

Dans quelle mesure est-ce important que les indigènes vivant en ville s’affirment ?

Cela est préoccupant, cela est en train de se réaliser. Le yanomami sort de la communauté pour arriver en ville et il y a des gens du village qui sont de là-bas. Votre culture est très forte pour nous. Le napë a l’habitude d’attirer l’indigène. C’est très triste pour nous, je suis très inquiet. C’est ce qui s’est passé et cela continue à fonctionner comme c’est arrivé ici à Rio : vous avez enlevé les indigènes d’ici et maintenant vous êtes arrivés à notre village. Le napë arrive et dit: “Là-bas en ville, c’est mieux que dans la forêt, cesse d’être indigène”. J’ai été traité de cette manière, mais je suis revenu. Mais d’autres ne veulent pas revenir [au village]. Ils disent: “On ne peut pas rester contre les orpailleurs, les orpailleurs donnent de l’argent, de la nourriture”. C’est pour cela que je suis là pour lutter, pour empêcher cela.

Comment nous, blancs, pouvons-nous apprendre à abandonner la ville et aller dans la forêt ?

C’est une question difficile. Si vous commencez par vous préoccuper de nous, dire pour l’indigène que la ville, ce n’est pas bon, vous aidez tout le monde. Écrivez à l’Association [Hutukara]. Parlez, unissons-nous, connaissons-nous, pour que nous soyons tous unis. Les blancs parfois veulent juste remplir leurs mains d’argent et ne pense qu’à cela, veut juste tuer. C’est donc important de créer une force brésilienne-indigène car l’indigène est brésilien.

Quelle est la notion indigène équivalente à Dieu ?

[rires] Dieu est notre tout. La théorie nous fait même du bien. Dieu est tout, la forêt, la pluie, la clarté. Je connais Omama. Dieu est un mauvais nom venu de loin - Omama est la forêt. Je ne l’ai jamais vu, mais j’ai rêvé. Il est bon. C’est difficile d’entrer en contact avec lui, il aide seulement lorsqu’il le veut. Quand il veut aider, il aide; quand il ne le veut pas, il n’aide pas. Omama nous donne tout. Chaque personne qui naît près de la forêt connaît - vous, jeunes, nés en ville, vous ne connaissez pas Omama.

Que pensez-vous des délires, des oeufs-bombes de Cabelo (artiste brésilien responsable de l’exposition) ?

Quand je suis arrivé, j’ai rencontré cet oeuf-bombe. Ma vision que j’ai eue en rêvant de cet oeuf en premier, en tant que pajé, en tant que yanomami, est un oeuf de jaguar. Oeuf de jaguar est le début du monde. Quand j’ai eu le rêve, il y avait un oeuf de jaguar sous la chute d’eau, et on a trouvé l’oeuf en train de grogner. On a dit “c’est un oeuf de jaguar, rapportons-le à la maison”. Le pajé a dit: “cet oeuf est du jaguar, il faut donc le préparer pour le cuisiner pour que je puisse le manger, cet oeuf de jaguar”. Derrière la coquille, un jaguar s’est formé.

Quand j’ai eu le rêve, ils [les esprits de la forêt] les ont vu correctement pour appeler votre attention, pour vous montrer la destruction des chutes d’eau, pour demander d’arrêter. Personne n’a le savoir dès la naissance, apprenons ensemble, avec de l’art, avec les xapiri [les esprits de la forêt], avec des professeurs.

Croyez-vous en la réincarnation ?

Dans la culture yanomami, ce n’est pas comme chez les napë. Quand un yanomami meurt, il ne vas pas dans la terre, non. Notre coutume est faire une crémation pour qu’il puisse aller là en haut. Son âme s’en va, pour ailleurs, où vit Omama, dans une autre planète. Le pajé qui meurt s’en va et puis revient, pour continuer à protéger les yanomami et vous aussi, pour continuer à travailler comme lorsqu’il était en vie.
Vous en ville, quand vous mourrez, vous enterrez. Je ne  trouve pas ça bien, non, mais c’est votre coutume. Nous les pajé, on revient, sous une autre forme.


Comment avez-vous vécu l’assemblage du livre La Chute du Ciel, qu’est-ce qu’a été la découverte de l’anthropologie pour le peuple yanomami ?


Ce livre a été pensé pour raconter comment ça s’est passé, il y a 70 ans [nombre qui signifie probablement beaucoup d’années pour Davi, donc manière de dire  au Blanc “il y a longtemps”]. Pour moi, ce livre a été écrit pour diffuser les problèmes, les maladies, les invasions de routes, l’armée… ce livre a été élaboré pour marcher, et c’est pour cela qu’il a été si important ici au Brésil et ailleurs. C’est un livre important et triste. Il circule au Brésil et ailleurs, dénonçant les problèmes, pour qu’on puisse le lire et s’intéresser. C’est important de lire toujours et se poser des questions. Auê ? (compris ?)

O líder yanomami Davi Kopenawa com os índios urbanos da Aldeia Maracanã depois do evento no Espaço Cultural BNDES. Fotografia por Julien Pallotta
Le leader yanomami David Kopenawa avec les indiens urbains de "Aldeia Maracanã" après l'entretien à l'Espace Culturel BNDES. Photographie par Julien Pallotta





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