por Luca Szaniecki Cocco
Uma crônica amadora quase toda semana...
Suponho
que todo leitor, ou qualquer pessoa sensata, carioca tenha ficado chocado
diante da horrível cena na qual se encontram as nossas livrarias e da crise do
mundo editorial. Somente nos últimos tempos posso citar dois exemplos
marcantes: o fechamento da Livraria Cultura e o Arlequino no centro.
Livrarias
nunca são somente livrarias. Em suas milhares de páginas, a história e a
cultura do mundo parecem te possuir no recinto. Nunca vi briga dentro de
livraria. Se o mundo fosse uma livraria talvez nunca houvessem brigas. Posso
parecer radical, mas pense bem comigo: fora da burocracia dos cadastros,
capazes de enfurecer qualquer um, não há nada naquele ambiente que te faça
querer brigar.
A
morte das livrarias é apenas mais uma das terríveis consequências da crise pela
qual passamos. Não somente a crise econômica em si, que causou a morte
financeira e concreta destas livrarias, mas uma crise cultural igualmente, na
qual não conseguimos valorizar a experiência da leitura em nossa sociedade. Em
vez disso, adoramos encher o tempo dos alunos com simulados do ENEM e
vestibulares.
Em
tempos sombrios para a leitura, ou seja, tempos sombrios para a imaginação,
para a criação e a criatividade, a abertura de um sebo parece ser um sinal
divino, um alívio cósmico. Falo mais especificamente de minha experiência ao
encontrar um novo sebo abrindo em Ipanema (o sebo Lima Barreto na Visconde de
Pirajá, caso esteja curioso em visitar), mas é um fato de que que os sebos
cariocas resistem com uma vontade impressionante de maneira geral. E cada
vitória, por mais insignificante que pareça, nos enche de vontade e nos mostra
uma incrível capacidade de adaptação.
Compareci,
por acaso, à abertura do sebo mencionado em Ipanema, cuja recepção pelos
vizinhos da galeria na qual se situa foi bastante aconchegante. Lembro-me
particularmente da exclamação dada por uma vizinha ao conhecer o novo sebo:
“Meu deus, finalmente uma notícia boa no Rio de Janeiro! Parabéns, aqui está
tão lindo que parece a Europa!”. Por mais bem-intencionada que fosse, não
consigo deixar de ver um problema em tal elogio. Gostaria de lhe ter
respondido: “Não, isso aqui é Brasil!”. As livrarias fecham pelo pior do
Brasil, mas os sebos nascem com o que ele há de melhor.
Vida
longa aos sebos!
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