quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Crônicas Amadoras #8: Viva o Sebo!

Viva o Sebo!
por Luca Szaniecki Cocco

Uma crônica amadora quase toda semana...






Suponho que todo leitor, ou qualquer pessoa sensata, carioca tenha ficado chocado diante da horrível cena na qual se encontram as nossas livrarias e da crise do mundo editorial. Somente nos últimos tempos posso citar dois exemplos marcantes: o fechamento da Livraria Cultura e o Arlequino no centro.

Livrarias nunca são somente livrarias. Em suas milhares de páginas, a história e a cultura do mundo parecem te possuir no recinto. Nunca vi briga dentro de livraria. Se o mundo fosse uma livraria talvez nunca houvessem brigas. Posso parecer radical, mas pense bem comigo: fora da burocracia dos cadastros, capazes de enfurecer qualquer um, não há nada naquele ambiente que te faça querer brigar.

A morte das livrarias é apenas mais uma das terríveis consequências da crise pela qual passamos. Não somente a crise econômica em si, que causou a morte financeira e concreta destas livrarias, mas uma crise cultural igualmente, na qual não conseguimos valorizar a experiência da leitura em nossa sociedade. Em vez disso, adoramos encher o tempo dos alunos com simulados do ENEM e vestibulares.

Em tempos sombrios para a leitura, ou seja, tempos sombrios para a imaginação, para a criação e a criatividade, a abertura de um sebo parece ser um sinal divino, um alívio cósmico. Falo mais especificamente de minha experiência ao encontrar um novo sebo abrindo em Ipanema (o sebo Lima Barreto na Visconde de Pirajá, caso esteja curioso em visitar), mas é um fato de que que os sebos cariocas resistem com uma vontade impressionante de maneira geral. E cada vitória, por mais insignificante que pareça, nos enche de vontade e nos mostra uma incrível capacidade de adaptação.

Compareci, por acaso, à abertura do sebo mencionado em Ipanema, cuja recepção pelos vizinhos da galeria na qual se situa foi bastante aconchegante. Lembro-me particularmente da exclamação dada por uma vizinha ao conhecer o novo sebo: “Meu deus, finalmente uma notícia boa no Rio de Janeiro! Parabéns, aqui está tão lindo que parece a Europa!”. Por mais bem-intencionada que fosse, não consigo deixar de ver um problema em tal elogio. Gostaria de lhe ter respondido: “Não, isso aqui é Brasil!”. As livrarias fecham pelo pior do Brasil, mas os sebos nascem com o que ele há de melhor.

Vida longa aos sebos!

Nenhum comentário:

Postar um comentário