sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Bate Papo com Dep. Renan Ferreirinha


Bate-Papo com o Dep. Renan Ferreirinha
por Bruna Karez, Miguel Boisseleau e Luca Szaniecki Cocco

Fomos ter uma pequena entrevista com o Deputado Estadual Renan Ferreirinha (PSB), caçula da Alerj e um dos fundadores do Acredito. Marcamos a reunião através do aplicativo “Nosso Mandato”. Antes de começar conversamos um pouco Daniel da Costa Brunet, o assessor de imprensa de Renan, e depois fizemos uma breve apresentação do Coletivo.





Renan Ferreirinha: Chamou o grupo (risos). Muito bom gente, antes de começar, a gente tá super animado com a iniciativa do aplicativo “Nosso Mandato. A gente faz todo o mandato baseado na participação popular. É um principio muito forte que estamos construindo. Eu e o Brunet, quem faz a parte da comunicação, a gente é super confiante nisso, né? E que dentro do aplicativo dá pra fazer diferentes questões: votar projetos de lei, sugerir projetos, dá pra notificar problemas e dá pra marcar reuniões.

Brunet: Eles conhecem bem, já conversei com eles.

Renan: Ah! Maravilha, vocês estão super por dentro disso. E também achei que seria muito legal que o Brune participasse conosco, tem uma experiência muito grande na parte de comunicação, o que vocês estão fazendo aqui também. Acho que temos a ganhar nessa troca.

Coletivo Amador: Perfeito. Então, nós temos algumas perguntas. Vamos fazer uma e a gente vai vendo para onde a conversa vai.

R: Beleza
[...]

Coletivo Amador: Então, uma de suas principais pautas é o ativismo, a participação do jovem na política (como, por exemplo, o Parlamento Juvenil). Pra você, qual é o papel do jovem na atual situação política do Brasil?

R: Papel do jovem pra mim é o papel de protagonismo. Tudo o que eu acabei fazendo na minha vida desde que me entendi como ativista pela educação foi de colocar o protagonismo jovem no lugar que ele merece. Tudo o que aconteceu na minha vida foi através de educação de qualidade, quando comecei a trabalhar de forma propositiva foi quando comecei um movimento chamado “Mapa da Educação” junto com outros jovens ao redor do brasil, incluindo, por exemplo, a Tabata que também foi eleita ano passado junto comigo, e a gente queria colocar a educação como pauta central do Brasil através do protagonismo jovem. O que isso quer dizer?  Chamar o jovem para participar das principais decisões daquele tema. E é isso muito que o mapa do buraco e depois o mapa da educação se desenvolveu em Educação. Em seguida a gente começa o Acredito que é um movimento de renovação política, que defende uma renovação de princípios, práticas e pessoas na nossa política, que também tem um apego pelo protagonismo jovem muito importante. A gente acredita que tem muita pouca participação do jovem na política. E as pessoas olham pra gente, as vezes subestimam a capacidade, o preparo técnico ou realmente a possibilidade de fazer uma diferença que seja significativa. E a gente precisa ir contra esse preconceito, né? Esse estereotipo. Então eu sou muito defensor dessa pauta do protagonismo jovem, até que quando a gente acabou sendo eleito aqui na Alerj, quando chego na Casa, eu vejo que tem uma grande plataforma  que é o parlamento Juvenil pra poder empoderar ainda mais jovens pra entender que a política acontece no dia a dia, através de relações humanas, acontece também  com o jovem pensando já desde o ensino médio secundário qual é sua participação com isso. Acho que o Parlamento Juvenil tem um grande trabalho de formação cidadã e de empoderamento desse jovem que muitas vezes não tem a possibilidade de pensar em ser mais protagonista onde estiverem.

C: No mundo todo há um tempinho atrás, aconteceram aquelas manifestações em prol de uma mudança das políticas do governo em relação á mudança climática. No Brasil, não houve uma repercussão muito grande desse tipo de manifestação. Houve na Europa, nos EUA, uma paralisação e aqui não. Por que você acha?

R: Ano passado foi um ano muito confuso, né, para todos nós e para o brasil em especial. Um ano de eleições onde as emoções estavam muito acirradas e acho que essa pauta dominou muito o debate do ano passado. Eu acompanhei particularmente muito de perto a questão das manifestações, questões globais a respeito do aquecimento global, a respeito das mudanças climáticas porque eu morei por 4 anos em Cambridge (EUA), Boston, quando estava fazendo minha faculdade, quando estava em Harvard, e esse era um assunto muito quente (risos), literalmente. Eu particularmente tenho bastante empatia com essa questão, ou seja, de defesa do meio ambiente, defesa das questões climáticas. Acho que o que acabou acontecendo no Brasil foi que a gente tinha uma uma decisão local, nacional pra se fazer, que era relacionada às eleições, e acabou não se dando tanto espaço para isso, mas acho que de forma alguma isso quer dizer que o brasileiro não está preocupado com essas questões. É mais um timing de como isto estava acontecendo. Acho que também que existe uma questão nossa como sociedade civil, imprensas, organizações em geral, de falar mais sobre esse assunto e de explicar o que tá acontecendo, de fazer um projeto didático, certo? Quais são as questões principais, quais são os principais desafios, obstáculos a respeito disso, e a gente trabalha inseridos nessa agenda global. Ou seja, na França isso foi muito forte, por exemplo. Meus amigos franceses contavam de uma maneira muito envolvida com esse caso. Acho que isso agora vai começar a caminhar de uma maneira mais ativa no Brasil porque a partir do momento que a gente tem a perspectiva de 4 anos, 2 anos de governo, essas pautas vão vir forte. E é uma pauta que temos tido muito retrocesso no país. É importante que a gente possa ter realmente a atenção devida para isso.

C: Sim, justamente falando desse retrocesso, ano passado foi realmente um ano de eleições, quando muita coisa aconteceu aqui e houve esse problema do timing, mas esse ano o novo ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, fez várias declarações que fizeram muito barulho lá fora e pessoalmente (Bruna falando) sinto que tá fazendo mais barulho nas mídias internacionais, francesas, americanas, etc., sobretudo no que diz respeito a Amazônia, do que aqui mesmo. Isso tudo neste ano, então, por que você acha isso?

R: Tem alguns fatores relacionados a isso. Primeiro porque quando mundo hoje vê o Brasil, o mundo tá preocupado com o que o Brasil pode causar para além do brasil. E uma questão central nisso é a questão da diversidade e a questão do clima, ou seja, a floresta amazônica nesse caso é o que deixa as pessoas muito atentas. Veem de uma maneira que não é só um assunto do Brasil, é um assunto global e por isso que tem mais atenção e acaba se canalizando para isso. Aqui no Brasil, aí já fazendo uma crítica direta ao que acaba acontecendo por volta do Ministro do meio Ambiente e do governo, são vários pepinos que estão surgindo. São várias declarações complexas, são vários problemas que estão aparecendo e aí a gente acaba tendo essa difusão de atenção. Uma hora é uma questão de cidadania, outra hora é com educação, outra hora com meio ambiente, você acaba rachando essa atenção com isso. Mas não acho que é porque a gente não se preocupa, mas é porque nossa atenção tá sendo dividida pra diversas questões pra isso. Acho que até, como membro e cofundador do Acredito, isso é um tema que a gente tem conversado muito no Acredito, e o Acredito tem sido bastante resistente nesse aspecto. Eu como deputado estadual acabo tendo uma restrição do que institucionalmente eu consigo fazer, visto que é um tema nacional, mas o que a gente consegue é realmente dar espaço ao tema, politicar, comentar, é algo que eu particularmente tenho feito nessa pasta do meio ambiente.

C: Mudando um pouco, você mencionou os problemas em relação à educação com todas as manifestações em relação ao contingenciamento, por exemplo, vimos que estas manifestações foram um sucesso. Contudo, muitos criticaram o movimento por ter sido “aparelhado” pelo PT, outras preferiram ver nele um exemplo de resistência. Qual seria seu posicionamento?

R: O que acabou acontecendo, primeiro que tudo que tá acontecendo nesse ano, as atitudes do governo que tem decisões que nos afetam de maneira mais direta, a que mais tem essa proximidade com as pessoas é o que tem respeito a educação. Quando as pessoas falam de reformas que estão acontecendo ou outros temas, você ainda precisa ter uma explicação, uma contextualização. A educação é algo muito próximo, as pessoas entendem e sentem aquilo sendo muito afetado. Todo mundo precisa estudar, colocar seus filhos na escola, conhecem professores, ou seja, por isso que teve uma grande sinergia dessa crítica. Eu fui para a rua, eu protestei, participei de manifestações e sem ter nenhuma relação partidária nesse movimento. Eu fui para lá sendo um cidadão que estava indignado com a despriorização da pauta de educação. E acho que muitas pessoas, a vasta maioria, também foram com esse intuito. Agora, as manifestações muitas vezes acabam tendo muitas outras pessoas que tão mais voltadas para partido, que tão mais voltadas para pautas específicas e que acabam fazendo esse barulho. Mas acredito que são uma minoria dentre as pessoas que foram nas manifestações no começo do ano. E como você disse, teve um resultado, teve um resultado para isso que é, primeiro, que o país todo está atento, segundo, é mostrar que com a educação o buraco é mais embaixo e eu particularmente, como consequência disso, nós aqui do mandato colocamos de pé uma iniciativa que foi a “Jornada do Corte Federal”. Eu sou presidente da Comissão de Economia, Indústria e Comércio aqui da Alerj e essa Comissão faz diversas audiências públicas sobre diversos temas. A gente falou: “Ó, esse é um assunto muito passional, mas qual o efeito prático disso?”. A gente decidiu colocar de pé essa Jornada de três audiências públicas para analisar quais seriam os impactos desse contingenciamento na economia do Rio de Janeiro. A primeira analisando o impacto a curto prazo, diretamente nos empregos das universidades, terceirizados, quantos empregos seriam afetados, etc. Segundo, o impacto a médio prazo, e aqui entra o impacto nos arredores das universidades: comércios, serviços, o entorno. E terceiro o impacto a longo prazo que é o impacto que se tem no mercado de trabalho e na arrecadação do estado a longo prazo. A gente chamou todas as instituições federais do RJ, tanto de secundário quanto de ensino superior e foi colocado um material muito interessante, então o impacto é muito grande das universidades, é analítico, empírico, de conta mesmo, a gente consegue mostrar isso e estamos finalizando esse relatório que vai ser entregue tanto ao governo estadual quanto ao governo federal pra mostrar “ó, isso aqui vai muito além só do impacto em sala de aula”. E isso começa com a pressão da sociedade das ruas, ou seja, do nosso lado aqui, o mandato acabou tendo sua pauta central no final do segundo e primeiro semestre baseada em manifestações da sociedade civil. Acho que isso é muito simbólico.

C: Ainda sobre manifestações, vimos na sua página que 2013 foi sua primeira manifestação de rua (risos), por que você acha foi um momento tão especial para a vida política brasileira?

R: Aquele período foi junho de 2013, né, que um dia vão chamar de “Primavera Brasileira” (risos), salva as devidas proporções. Isso foi muito simbólico porque quando a gente pensa a nossa geração, a última vez que a juventude, a última vez que as pessoas de maneira forte e significativa, foram pras ruas protestar foram os Caras Pintadas, no começo da década de 90 no impeachment do Collor. Foi naquele período de volta a democracia, do primeiro governo, ou seja, tinha 20 anos de uma certa passividade que não era muito interessante. E quando as pessoas foram pras ruas e manifestar primeiro em respeito da passagem de ônibus, depois de serviços para a sociedade, aquilo foi muito formativo para mim: ver que o brasileiro não é, como se dizia, que só queria ficar na omissão, na passividade, e que o brasileiro também questionava e queria fazer acontecer. Acho que ali, em 2013, houve uma grande ruptura de mostrar: estamos atentos e isto não nos representa: o Congresso com os seus privilégios, os serviços públicos sendo tão defasados, isso a gente não quer mais e a gente tem voz. Isso reflete as estruturas institucionais, ou seja, a vida real, a sociedade, as suas manifestações, impactam nas instituições que devem servir a sociedade, e isso tava muito pouco claro. E pra mim, 2013 acaba sendo uma ruptura pra que próprias, outras formas de sustentar nossa democracia pudessem surgir através de movimentos cívicos que acho que alguns acabaram caminhando mais para acelerar essa polarização política, esses movimentos acabam tendo um trabalho ruim nesse aspecto, mas outros, aí falo como cofundador do Acredito, que viram aquele momento de 2013 uma esperança de falar assim: “Nós podemos ter uma participação maior”. E começaram a surgir pra conseguir realmente fortalecer nossa constituição democrática, para além dos partidos políticos, que tem muita importância na democracia, mas não devem ter o monopólio da atuação democrática, então acho que 2013 é um grande marco nesse sentido também.

C: Em relação a isso, 2013 foi um momento em que a população se mostrou interessada, se mostrou saber do que estava acontecendo, um momento de conscientização, mas muitas vezes possível notar uma defasagem entre o que tá acontecendo no mundo político, no Congresso, as tomadas de decisões pelos políticos e o que está sendo absorvido pela população. Quais ações você considera importantes para uma conscientização da população?

R: Excelente pergunta. As ações que precisam ser tomadas são aquelas que dizem respeito à transparência. Quando a gente dá transparência para o que está acontecendo nas instituições, a gente promove mais a participação. Então transparência e participação caminham muito juntas: as pessoas não participam porque elas não sabem o que está acontecendo, porque ninguém diz pra elas como que funciona, como que tá sendo apresentado. Por isso colocamos isso como pilar central aqui do mandato, mais do que chegar na população e dizer assim “Participa! Faz isso aqui”, como que participa, quais são os meios, é através de um aplicativo? É através de redes sociais? é através de um evento de prestação de contas na rua? Tudo isso a gente está fazendo, não porque a gente acha é mais bacana, não, mas porque isso é um pilar central do que a gente imagina que deve ser um mandato na nossa democracia, de você falar com as pessoas como que funciona a casa legislativa, como que funcionam as políticas públicas e por aí vai. E a partir disso você tem que falar de uma forma que a pessoa se sinta parte disso, que ela se sinta representada, falar assim “As pessoas aqui estão aqui para trabalhar para a população”. Para trabalhar para a população, a gente precisa saber o que a população mais deseja, mais reclama, essa via de mão dupla tem que estar acontecendo de maneira muito ativa e isso acaba incomodando estruturas que tem sua manutenção através da falta de informação, da falta de clareza. E por mais que, por exemplo um mandato possa ser mais transparente, o mandato possa ser mais participativo, o que a gente tem que buscar é institucionalizar essas boas práticas pra que a Alerj como um todo seja transparente, o Congresso Nacional como um todo seja mais transparente: lei de aceso à informação, quesito de transparência dos dados de quem trabalha em cada gabinete, de como que funciona essa estrutura, possam estar disponíveis, de como funciona as agendas das comissões, que é um fator super importante que a gente vem tocando aqui, de promover iniciativa popular que a gente também acredita bastante, etc. Acredito muito na democracia representativa no dia a dia, mas a democracia também direta, que as pessoas possam sugerir projetos de lei através de trocas entre a sociedade, isso também é fantástico e deve ter muita mais participação. A lei da Ficha Limpa foi assim, como que a gente multiplicar esses bons casos?

C: Em relação a isso que você falou de democracia participativa, você não acredita talvez que a rotina da maioria dos brasileiros, que trabalham em horários bastante prolongados, tem filhos, etc, pode ser um entrave para a participação deles na vida política?

R: Com certeza. A rotina média de um trabalhador brasileiro é muito difícil pra você misturar com a participação no dia a dia. Por isso que também defendo muito a democracia participativa e que nós possamos escolher nossos representantes porque você fica “ó, tô sendo representado lá no Parlamento”. Mas, mesmo assim tem que ter uma prestação de contas muito ativa com essa população. As pessoas tem a opção de escolher de se engajar ou não, mas elas precisam ter esse acesso. Se elas nem recebem essas informações, não é uma opção, ela não tá escolhendo quanto a isso, ela tá seguindo porque ela não tá tendo opção de se engajar mais. Quem vai ter disponibilidade, isso é uma escolha pessoal, mas a gente sendo muito realista, quanto a isso a rotina de um trabalhador, das pessoas em geral, é pesada, é puxada, é difícil você estar no dia a dia aqui [na Alerj]. Mas as pessoas hoje com isso aqui, o celular, como o smartphone, isso é encurta distância, sabe. Seja voltando do trabalho, seja indo ao trabalho, seja durante, fazendo um intervalo, você entender o que tá acontecendo lá, promovendo mais esses diferentes canais, dá obviamente pra gente juntar com a rotina puxada de trabalho e a pessoa vai entendendo até onde é sue limite: comentou isso aqui, criticou aquilo ali... acho que tudo isso é muito benéfico, sabe, é muito bem-vindo. Agora, desde que aconteça de uma forma respeitosa, né, acho que um grande de um desafio para todos nós, né, que a gente possa ter essas divergências, trocas, os debates, mas a partir de uma base de respeito muito forte.

C: Já que você falou de transparência, será que você poderia falar mais sobre o aplicativo?

R: Claro. Então, o aplicativo do “Nosso Mandato” ele é usado por diferentes parlamentares no Brasil. Ele começou em Belo Horizonte, o vereador que começou a usar o aplicativo que é o Gabriel Azevedo, que colocou realmente essa ideia de trazer as pessoas mais pra participação, sugerindo projetos, votando em projetos... Então começou e 2016 quando ele foi eleito e a partir disso ele começou a difundir isso para que outros parlamentares pudessem usar, até que realmente chegou em 2018, muitas pessoas foram eleitas que vem de movimentos de renovação política, que não são dos dois extremos, que estão realmente promovendo uma participação e mais transparência. E quando a gente viu a gente falou assim “ó, tem várias questões aqui que estão no nosso mandato que a gente acha que o aplicativo facilita bastante” e fomos os pioneiros em trazer o aplicativo para o Rio de Janeiro. Ele tem cinco funcionalidades: a primeira funcionalidade é que você pode votar em projetos de lei reais que estão tramitando na casa naquele dia, eu dou minha indicação de voto e as pessoas falam o que elas pensam com isso, votam sim e não e dão comentários. E eu já mudei meu voto baseado em comentários muito condizentes lá, não é uma questão se a maioria votou, mas pra quem estudou, fez todo o processo, mas se tiver uma boa explicação, mostrar realmente uma perspectiva diferente, a gente tá super aberto pra mudar o nosso voto com isso, depende muito da participação das pessoas. Segunda questão é sugerir projetos de lei: você teve uma ideia, achou que é algo interessante, sugerir isso e a gente faz o trabalho aqui de tornar esse projeto constitucional, de entrar em contato, de entender como funciona, ou seja, promover a iniciativa popular nesse sentido. O terceiro fator que o aplicativo tem é de você denunciar problemas que acontecem na sociedade, ou seja, uma rua que não está asfaltada, uma luz que tá faltando, e isso a gente, como deputado estadual, tem o papel de fiscalizar e cobrar esferas estaduais, mas podemos oficiar qualquer algo público de algum problema que tá acontecendo. Então recebemos o problema sobre isso, a gente oficia dizendo “ó, recebemos a denúncia de que isso está acontecendo, segue aqui o oficio relacionado para isso”, ou seja, uma forma totalmente republicana e institucional de lidar com essas questões. A quarta funcionalidade do aplicativo é marcar reunião que vocês marcaram comigo hoje, ou seja, marcar comigo ou com o especialista do time. Por exemplo, o Brunet é nosso especialista de comunicação, marcar uma reunião com ele direto, pessoal que é responsável pela parte de educação, responsável pela parte jurídica, ou seja, a gente também tem essa possibilidade de marcar reuniões diretas. Acho que é uma forma muito interessante de ter a participação parlamentar. E a quinta funcionalidade é promover a transparência das nossas contas do mandato, ou seja, quanto a gente está gastando com funcionário, com assessores no gabinete, quanto a gente tá gastando relacionado à verba de gabinete de cada gabinete para utensílios do time, ou seja, tudo isso está disponível e isso é muito disruptivo porque aqui na Casa tem muita pouca informação sobre isso. Tem uma estrutura geral que diz lá o Portal de Transparência, mas não dividido por gabinete e é isso que a gente tem que fomentar mais. A gente coloca lá os dados totalmente públicos pra consulta popular.

C: Justamente em relação a essa transparência, você falou que o caminho seria uma institucionalização dessa transparência, além de leis para tornar isso obrigatório, mas até lá [...] quais medidas você acha que poderiam ser tomadas para melhorar a transparência por gabinete?

R: é isso realmente passa ou por projeto de lei ou por projeto de resolução. Projeto de resolução diz sobre o regimento da casa, o funcionamento interno da casa, que acho que também é uma ótima iniciativa. Como você disse, é um processo demorado, mas a gente acredita que fazendo nossa parte no nosso gabinete isso contamina de forma positiva ao entorno. Isso tem se mostrado muito verdade. Nosso objetivo não é fazer algo para parecer que a gente é diferenciado, é por que a gente realmente acredita nisso, a gente realmente acredita que deve ser feito dessa forma. Isso acaba tendo um constrangimento positivo ao redor: as pessoas falam “pô, tal gabinete tá sendo transparente com isso, vou correr atrás pra fazer mais isso aqui”. Acho que isso é super positivo pra que a gente possa realmente multiplicar. E aí a partir do momento em que estamos mais abertos com isso, a gente consegue sugerir um projeto de resolução, como a gente já fez, e ter mais possibilidades dele passar. Isso passa também pela própria sociedade cobrando, sabe, seus representantes com isso. “Ó, vi que deputado x tá fazendo isso, será que o deputado em quem votei tá fazendo algo também?”. Ou seja, essa cobrança da sociedade também é fundamental para que isso possa se multiplicar.

C: [...] Considerando que você realizou sua graduação em Harvard, o que a universidade brasileira pode aprender com Harvard ou com o ensino americano, em geral?

R: (risos) Essa pergunta é interessante. Eu acho que a universidade brasileira, primeiro, nós temos diversas questões na nossa educação que precisam ser avançadas, especialmente em educação básica. A nossa educação básica está muito atrás do que a gente imaginara que deveria ser. Nossa educação superior tem diversos problemas e diversos desafios, mas quando a gente olha de maneira comparativa, nossa educação superior tem posição de destaque na América Latina, por exemplo. A gente compete talvez só com Chili, sabe, todos os outros temos um sistema de educação superior que está à frente, então temos o tripé de ensino, pesquisa e extensão muito bem consolidado nas nossas universidades, principalmente nas universidades públicas e nas privadas de destaque. Ou seja, a gente já tem um avanço muito forte. A minha experiência é uma experiência muito diferente, mas valorizo muito o ensino superior brasileiro, eu acho que a gente já conseguiu lograr grandes questões no decorrer das décadas. Eu acho que tem duas coisas que poderiam ser mais difundidas, fortalecidas, que foram muito fortes na minha experiência em ter estudado em Harvard. A primeira diz respeito a uma flexibilidade das aulas que eu posso fazer: lá em Harvard a gente tem a ideia de que você é o arquiteto da sua educação, eu tenho obviamente um contrato com a universidade de que vou me formar em alguma área específica, mas eu tenho muito menos aulas obrigatórias do que aqui no Brasil. Eu tinha que fazer, por exemplo, um número x de matérias obrigatórias, mas tinha muito mais matérias eletivas que estavam mais próximas do que eu realmente tinha de prazer, de gostar com isso. Eu acho isso é muito interessante porque fiz matérias em diferentes áreas, muito além do meu curso só em Economia e Ciência Política: fiz matéria em filosofia, em negócios, programação, psicologia, biologia... ou seja, fiz matérias de diferentes áreas e tenho maior flexibilidade e acho isso muito interessante, é um fator. O segundo fator é a experiência multicultural, você estudar com pessoas de diferentes nacionalidades. Eu tive oportunidade de estudar com gente de mais de 80 nacionalidades diferentes, isso é muito forte, te dá uma perspectiva de cidadão global muito interessante. Então assim, eu acho que as universidades brasileiras podem avançar muito mais, atrair pessoas de outros países, ter essas trocas, esses intercâmbios, isso é algo que enriquece muito nossa vivência acadêmica.

C: Uma última pergunta?

R: Pode, claro!

C: Você falou de educação básica, alguns usam esse argumento para o contingenciamento, que é necessário investir mais na educação básica e para isso tirar da educação superior. O que você acha disso?

R: Eu acho que é preciso investir muito mais sim em educação básica, mas não em detrimento da educação superior. Acho que são questões que podem ser tratadas de modo distintas e esse argumento que o governo utilizou, o governo também cortou na educação básica. Então isso não foi pra frente nessa questão de priorização. O que acaba acontecendo é que quando a gente fala de educação superior, existem custos que são custos de hospital universitário, laboratórios, que acabam, realmente, encarecendo, e aí acaba tendo uma média maior por aluno. Agora, na educação básica a gente tem um grande déficit para isso, a gente precisa priorizar mais, precisa ter melhor gestão a respeito disso, que é algo muito importante também, mais integração. Eu acredito então que é preciso se fortalecer muito mais em educação básica, mas sem abrir mão que é muito importante também que é a educação superior e o governo acabou caindo em contradição quando cortou dos dois lados, ou seja, despriorizando dos dois lados. Fazer ajuste fiscal, gente que tem mentalidade de responsabilidade fiscal é muito bom, a gente tem que gastar o que a gente tem condições de gastar, eu defendo isso. Agora, a gente tem que priorizar o que eu acredito que seja maior prioridade que nesse caso é a educação, o Brasil posterga de forma continua colocar a educação como projeto central desse país, da mesma forma que já foi a volta da democracia, a estabilidade econômica, a inclusão social, chegou a hora de educação de qualidade ser a principal bandeira do país. E enquanto isso não acontecer, as amarras do subdesenvolvimento vão continuar nos perseguindo e a gente precisa romper com essas amarras o quanto antes. 
Gente, obrigado! Espero que vocês tenham gostado e estamos a disposição e continuem a participar do aplicativo, hein!

C: Muito obrigado!  

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