Bate-Papo
com o Dep. Renan Ferreirinha
por Bruna Karez, Miguel Boisseleau e Luca Szaniecki Cocco
Fomos ter
uma pequena entrevista com o Deputado Estadual Renan Ferreirinha (PSB), caçula
da Alerj e um dos fundadores do Acredito. Marcamos a reunião através do aplicativo
“Nosso Mandato”. Antes de começar conversamos um pouco Daniel da
Costa Brunet, o assessor de imprensa de Renan, e depois fizemos uma breve apresentação
do Coletivo.
Renan Ferreirinha: Chamou o grupo (risos). Muito bom gente, antes de começar, a gente tá super
animado com a iniciativa do aplicativo “Nosso Mandato. A gente faz todo o
mandato baseado na participação popular. É um principio muito forte que estamos
construindo. Eu e o Brunet, quem faz a parte da comunicação, a gente é super
confiante nisso, né? E que dentro do aplicativo dá pra fazer diferentes
questões: votar projetos de lei, sugerir projetos, dá pra notificar problemas e
dá pra marcar reuniões.
Brunet: Eles
conhecem bem, já conversei com eles.
Renan: Ah!
Maravilha, vocês estão super por dentro disso. E também achei que seria muito
legal que o Brune participasse conosco, tem uma experiência muito grande na
parte de comunicação, o que vocês estão fazendo aqui também. Acho que temos a
ganhar nessa troca.
Coletivo Amador:
Perfeito. Então, nós temos algumas perguntas. Vamos fazer uma e a gente vai vendo
para onde a conversa vai.
R:
Beleza
[...]
Coletivo Amador:
Então, uma de suas principais pautas é o ativismo, a participação do jovem na
política (como, por exemplo, o Parlamento Juvenil). Pra você, qual é o papel do
jovem na atual situação política do Brasil?
R: Papel
do jovem pra mim é o papel de protagonismo. Tudo o que eu acabei fazendo na minha
vida desde que me entendi como ativista pela educação foi de colocar o protagonismo
jovem no lugar que ele merece. Tudo o que aconteceu na minha vida foi através
de educação de qualidade, quando comecei a trabalhar de forma propositiva foi
quando comecei um movimento chamado “Mapa da Educação” junto com outros jovens
ao redor do brasil, incluindo, por exemplo, a Tabata que também foi eleita ano
passado junto comigo, e a gente queria colocar a educação como pauta central do
Brasil através do protagonismo jovem. O que isso quer dizer? Chamar o jovem para participar das principais
decisões daquele tema. E é isso muito que o mapa do buraco e depois o mapa da educação
se desenvolveu em Educação. Em seguida a gente começa o Acredito que é um
movimento de renovação política, que defende uma renovação de princípios,
práticas e pessoas na nossa política, que também tem um apego pelo protagonismo
jovem muito importante. A gente acredita que tem muita pouca participação do jovem
na política. E as pessoas olham pra gente, as vezes subestimam a capacidade, o
preparo técnico ou realmente a possibilidade de fazer uma diferença que seja
significativa. E a gente precisa ir contra esse preconceito, né? Esse estereotipo.
Então eu sou muito defensor dessa pauta do protagonismo jovem, até que quando a
gente acabou sendo eleito aqui na Alerj, quando chego na Casa, eu vejo que tem
uma grande plataforma que é o parlamento
Juvenil pra poder empoderar ainda mais jovens pra entender que a política
acontece no dia a dia, através de relações humanas, acontece também com o jovem pensando já desde o ensino médio secundário
qual é sua participação com isso. Acho que o Parlamento Juvenil tem um grande
trabalho de formação cidadã e de empoderamento desse jovem que muitas vezes não
tem a possibilidade de pensar em ser mais protagonista onde estiverem.
C: No
mundo todo há um tempinho atrás, aconteceram aquelas manifestações em prol de
uma mudança das políticas do governo em relação á mudança climática. No Brasil,
não houve uma repercussão muito grande desse tipo de manifestação. Houve na Europa, nos EUA, uma paralisação e aqui não. Por que você acha?
R: Ano
passado foi um ano muito confuso, né, para todos nós e para o brasil em especial.
Um ano de eleições onde as emoções estavam muito acirradas e acho que essa
pauta dominou muito o debate do ano passado. Eu acompanhei particularmente
muito de perto a questão das manifestações, questões globais a respeito do aquecimento
global, a respeito das mudanças climáticas porque eu morei por 4 anos em Cambridge
(EUA), Boston, quando estava fazendo minha faculdade, quando estava em Harvard,
e esse era um assunto muito quente (risos), literalmente. Eu particularmente
tenho bastante empatia com essa questão, ou seja, de defesa do meio ambiente,
defesa das questões climáticas. Acho que o que acabou acontecendo no Brasil foi
que a gente tinha uma uma decisão local, nacional pra se fazer, que era
relacionada às eleições, e acabou não se dando tanto espaço para isso, mas acho
que de forma alguma isso quer dizer que o brasileiro não está preocupado com
essas questões. É mais um timing de como isto estava acontecendo. Acho que
também que existe uma questão nossa como sociedade civil, imprensas,
organizações em geral, de falar mais sobre esse assunto e de explicar o que tá
acontecendo, de fazer um projeto didático, certo? Quais são as questões
principais, quais são os principais desafios, obstáculos a respeito disso, e a
gente trabalha inseridos nessa agenda global. Ou seja, na França isso foi muito
forte, por exemplo. Meus amigos franceses contavam de uma maneira muito
envolvida com esse caso. Acho que isso agora vai começar a caminhar de uma
maneira mais ativa no Brasil porque a partir do momento que a gente tem a perspectiva
de 4 anos, 2 anos de governo, essas pautas vão vir forte. E é uma pauta que
temos tido muito retrocesso no país. É importante que a gente possa ter
realmente a atenção devida para isso.
C: Sim,
justamente falando desse retrocesso, ano passado foi realmente um ano de
eleições, quando muita coisa aconteceu aqui e houve esse problema do timing, mas
esse ano o novo ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, fez várias
declarações que fizeram muito barulho lá fora e pessoalmente (Bruna falando) sinto que tá
fazendo mais barulho nas mídias internacionais, francesas, americanas, etc., sobretudo
no que diz respeito a Amazônia, do que aqui mesmo. Isso tudo neste ano, então,
por que você acha isso?
R: Tem
alguns fatores relacionados a isso. Primeiro porque quando mundo hoje vê o Brasil,
o mundo tá preocupado com o que o Brasil pode causar para além do brasil. E uma
questão central nisso é a questão da diversidade e a questão do clima, ou seja,
a floresta amazônica nesse caso é o que deixa as pessoas muito atentas. Veem de
uma maneira que não é só um assunto do Brasil, é um assunto global e por isso
que tem mais atenção e acaba se canalizando para isso. Aqui no Brasil, aí já
fazendo uma crítica direta ao que acaba acontecendo por volta do Ministro do
meio Ambiente e do governo, são vários pepinos que estão surgindo. São várias
declarações complexas, são vários problemas que estão aparecendo e aí a gente
acaba tendo essa difusão de atenção. Uma hora é uma questão de cidadania, outra
hora é com educação, outra hora com meio ambiente, você acaba rachando essa
atenção com isso. Mas não acho que é porque a gente não se preocupa, mas é porque
nossa atenção tá sendo dividida pra diversas questões pra isso. Acho que até,
como membro e cofundador do Acredito, isso é um tema que a gente tem conversado
muito no Acredito, e o Acredito tem sido bastante resistente nesse aspecto. Eu
como deputado estadual acabo tendo uma restrição do que institucionalmente eu
consigo fazer, visto que é um tema nacional, mas o que a gente consegue é
realmente dar espaço ao tema, politicar, comentar, é algo que eu
particularmente tenho feito nessa pasta do meio ambiente.
C:
Mudando um pouco, você mencionou os problemas em relação à educação com todas
as manifestações em relação ao contingenciamento, por exemplo, vimos que estas
manifestações foram um sucesso. Contudo, muitos criticaram o movimento por ter
sido “aparelhado” pelo PT, outras preferiram ver nele um exemplo de resistência.
Qual seria seu posicionamento?
R: O que
acabou acontecendo, primeiro que tudo que tá acontecendo nesse ano, as atitudes
do governo que tem decisões que nos afetam de maneira mais direta, a que mais
tem essa proximidade com as pessoas é o que tem respeito a educação. Quando as
pessoas falam de reformas que estão acontecendo ou outros temas, você ainda
precisa ter uma explicação, uma contextualização. A educação é algo muito
próximo, as pessoas entendem e sentem aquilo sendo muito afetado. Todo mundo
precisa estudar, colocar seus filhos na escola, conhecem professores, ou seja,
por isso que teve uma grande sinergia dessa crítica. Eu fui para a rua, eu
protestei, participei de manifestações e sem ter nenhuma relação partidária nesse
movimento. Eu fui para lá sendo um cidadão que estava indignado com a despriorização
da pauta de educação. E acho que muitas pessoas, a vasta maioria, também foram
com esse intuito. Agora, as manifestações muitas vezes acabam tendo muitas
outras pessoas que tão mais voltadas para partido, que tão mais voltadas para
pautas específicas e que acabam fazendo esse barulho. Mas acredito que são uma
minoria dentre as pessoas que foram nas manifestações no começo do ano. E como você
disse, teve um resultado, teve um resultado para isso que é, primeiro, que o
país todo está atento, segundo, é mostrar que com a educação o buraco é mais
embaixo e eu particularmente, como consequência disso, nós aqui do mandato
colocamos de pé uma iniciativa que foi a “Jornada do Corte Federal”. Eu sou
presidente da Comissão de Economia, Indústria e Comércio aqui da Alerj e essa
Comissão faz diversas audiências públicas sobre diversos temas. A gente falou: “Ó,
esse é um assunto muito passional, mas qual o efeito prático disso?”. A gente
decidiu colocar de pé essa Jornada de três audiências públicas para analisar
quais seriam os impactos desse contingenciamento na economia do Rio de Janeiro.
A primeira analisando o impacto a curto prazo, diretamente nos empregos das
universidades, terceirizados, quantos empregos seriam afetados, etc. Segundo, o
impacto a médio prazo, e aqui entra o impacto nos arredores das universidades:
comércios, serviços, o entorno. E terceiro o impacto a longo prazo que é o
impacto que se tem no mercado de trabalho e na arrecadação do estado a longo
prazo. A gente chamou todas as instituições federais do RJ, tanto de secundário
quanto de ensino superior e foi colocado um material muito interessante, então
o impacto é muito grande das universidades, é analítico, empírico, de conta
mesmo, a gente consegue mostrar isso e estamos finalizando esse relatório que
vai ser entregue tanto ao governo estadual quanto ao governo federal pra
mostrar “ó, isso aqui vai muito além só do impacto em sala de aula”. E isso
começa com a pressão da sociedade das ruas, ou seja, do nosso lado aqui, o mandato
acabou tendo sua pauta central no final do segundo e primeiro semestre baseada
em manifestações da sociedade civil. Acho que isso é muito simbólico.
C: Ainda
sobre manifestações, vimos na sua página que 2013 foi sua primeira manifestação
de rua (risos), por que você acha foi um momento tão especial para a vida
política brasileira?
R:
Aquele período foi junho de 2013, né, que um dia vão chamar de “Primavera
Brasileira” (risos), salva as devidas proporções. Isso foi muito simbólico porque
quando a gente pensa a nossa geração, a última vez que a juventude, a última
vez que as pessoas de maneira forte e significativa, foram pras ruas protestar
foram os Caras Pintadas, no começo da década de 90 no impeachment do Collor.
Foi naquele período de volta a democracia, do primeiro governo, ou seja, tinha
20 anos de uma certa passividade que não era muito interessante. E quando as
pessoas foram pras ruas e manifestar primeiro em respeito da passagem de ônibus,
depois de serviços para a sociedade, aquilo foi muito formativo para mim: ver
que o brasileiro não é, como se dizia, que só queria ficar na omissão, na
passividade, e que o brasileiro também questionava e queria fazer acontecer. Acho
que ali, em 2013, houve uma grande ruptura de mostrar: estamos atentos e isto
não nos representa: o Congresso com os seus privilégios, os serviços públicos
sendo tão defasados, isso a gente não quer mais e a gente tem voz. Isso reflete
as estruturas institucionais, ou seja, a vida real, a sociedade, as suas
manifestações, impactam nas instituições que devem servir a sociedade, e isso
tava muito pouco claro. E pra mim, 2013 acaba sendo uma ruptura pra que próprias,
outras formas de sustentar nossa democracia pudessem surgir através de
movimentos cívicos que acho que alguns acabaram caminhando mais para acelerar
essa polarização política, esses movimentos acabam tendo um trabalho ruim nesse
aspecto, mas outros, aí falo como cofundador do Acredito, que viram aquele momento
de 2013 uma esperança de falar assim: “Nós podemos ter uma participação maior”.
E começaram a surgir pra conseguir realmente fortalecer nossa constituição democrática,
para além dos partidos políticos, que tem muita importância na democracia, mas
não devem ter o monopólio da atuação democrática, então acho que 2013 é um
grande marco nesse sentido também.
C: Em
relação a isso, 2013 foi um momento em que a população se mostrou interessada, se
mostrou saber do que estava acontecendo, um momento de conscientização, mas muitas
vezes possível notar uma defasagem entre o que tá acontecendo no mundo
político, no Congresso, as tomadas de decisões pelos políticos e o que está sendo
absorvido pela população. Quais ações você considera importantes para uma
conscientização da população?
R:
Excelente pergunta. As ações que precisam ser tomadas são aquelas que dizem
respeito à transparência. Quando a gente dá transparência para o que está acontecendo
nas instituições, a gente promove mais a participação. Então transparência e
participação caminham muito juntas: as pessoas não participam porque elas não
sabem o que está acontecendo, porque ninguém diz pra elas como que funciona,
como que tá sendo apresentado. Por isso colocamos isso como pilar central aqui
do mandato, mais do que chegar na população e dizer assim “Participa! Faz isso
aqui”, como que participa, quais são os meios, é através de um aplicativo? É através
de redes sociais? é através de um evento de prestação de contas na rua? Tudo
isso a gente está fazendo, não porque a gente acha é mais bacana, não, mas porque
isso é um pilar central do que a gente imagina que deve ser um mandato na nossa
democracia, de você falar com as pessoas como que funciona a casa legislativa,
como que funcionam as políticas públicas e por aí vai. E a partir disso você
tem que falar de uma forma que a pessoa se sinta parte disso, que ela se sinta
representada, falar assim “As pessoas aqui estão aqui para trabalhar para a
população”. Para trabalhar para a população, a gente precisa saber o que a
população mais deseja, mais reclama, essa via de mão dupla tem que estar
acontecendo de maneira muito ativa e isso acaba incomodando estruturas que tem
sua manutenção através da falta de informação, da falta de clareza. E por mais
que, por exemplo um mandato possa ser mais transparente, o mandato possa ser
mais participativo, o que a gente tem que buscar é institucionalizar essas boas
práticas pra que a Alerj como um todo seja transparente, o Congresso Nacional
como um todo seja mais transparente: lei de aceso à informação, quesito de
transparência dos dados de quem trabalha em cada gabinete, de como que funciona
essa estrutura, possam estar disponíveis, de como funciona as agendas das
comissões, que é um fator super importante que a gente vem tocando aqui, de
promover iniciativa popular que a gente também acredita bastante, etc. Acredito
muito na democracia representativa no dia a dia, mas a democracia também direta,
que as pessoas possam sugerir projetos de lei através de trocas entre a sociedade,
isso também é fantástico e deve ter muita mais participação. A lei da Ficha
Limpa foi assim, como que a gente multiplicar esses bons casos?
C: Em
relação a isso que você falou de democracia participativa, você não acredita
talvez que a rotina da maioria dos brasileiros, que trabalham em horários
bastante prolongados, tem filhos, etc, pode ser um entrave para a participação
deles na vida política?
R: Com
certeza. A rotina média de um trabalhador brasileiro é muito difícil pra você
misturar com a participação no dia a dia. Por isso que também defendo muito a
democracia participativa e que nós possamos escolher nossos representantes porque
você fica “ó, tô sendo representado lá no Parlamento”. Mas, mesmo assim tem que
ter uma prestação de contas muito ativa com essa população. As pessoas tem a
opção de escolher de se engajar ou não, mas elas precisam ter esse acesso. Se
elas nem recebem essas informações, não é uma opção, ela não tá escolhendo
quanto a isso, ela tá seguindo porque ela não tá tendo opção de se engajar
mais. Quem vai ter disponibilidade, isso é uma escolha pessoal, mas a gente
sendo muito realista, quanto a isso a rotina de um trabalhador, das pessoas em
geral, é pesada, é puxada, é difícil você estar no dia a dia aqui [na Alerj].
Mas as pessoas hoje com isso aqui, o celular, como o smartphone, isso é encurta
distância, sabe. Seja voltando do trabalho, seja indo ao trabalho, seja
durante, fazendo um intervalo, você entender o que tá acontecendo lá,
promovendo mais esses diferentes canais, dá obviamente pra gente juntar com a rotina
puxada de trabalho e a pessoa vai entendendo até onde é sue limite: comentou
isso aqui, criticou aquilo ali... acho que tudo isso é muito benéfico, sabe, é
muito bem-vindo. Agora, desde que aconteça de uma forma respeitosa, né, acho que
um grande de um desafio para todos nós, né, que a gente possa ter essas
divergências, trocas, os debates, mas a partir de uma base de respeito muito
forte.
C: Já
que você falou de transparência, será que você poderia falar mais sobre o
aplicativo?
R:
Claro. Então, o aplicativo do “Nosso Mandato” ele é usado por diferentes
parlamentares no Brasil. Ele começou em Belo Horizonte, o vereador que começou
a usar o aplicativo que é o Gabriel Azevedo, que colocou realmente essa ideia
de trazer as pessoas mais pra participação, sugerindo projetos, votando em projetos...
Então começou e 2016 quando ele foi eleito e a partir disso ele começou a difundir
isso para que outros parlamentares pudessem usar, até que realmente chegou em
2018, muitas pessoas foram eleitas que vem de movimentos de renovação política,
que não são dos dois extremos, que estão realmente promovendo uma participação
e mais transparência. E quando a gente viu a gente falou assim “ó, tem várias
questões aqui que estão no nosso mandato que a gente acha que o aplicativo facilita
bastante” e fomos os pioneiros em trazer o aplicativo para o Rio de Janeiro.
Ele tem cinco funcionalidades: a primeira funcionalidade é que você pode votar
em projetos de lei reais que estão tramitando na casa naquele dia, eu dou minha
indicação de voto e as pessoas falam o que elas pensam com isso, votam sim e não
e dão comentários. E eu já mudei meu voto baseado em comentários muito condizentes
lá, não é uma questão se a maioria votou, mas pra quem estudou, fez todo o processo,
mas se tiver uma boa explicação, mostrar realmente uma perspectiva diferente, a
gente tá super aberto pra mudar o nosso voto com isso, depende muito da participação
das pessoas. Segunda questão é sugerir projetos de lei: você teve uma ideia,
achou que é algo interessante, sugerir isso e a gente faz o trabalho aqui de
tornar esse projeto constitucional, de entrar em contato, de entender como funciona,
ou seja, promover a iniciativa popular nesse sentido. O terceiro fator que o
aplicativo tem é de você denunciar problemas que acontecem na sociedade, ou
seja, uma rua que não está asfaltada, uma luz que tá faltando, e isso a gente,
como deputado estadual, tem o papel de fiscalizar e cobrar esferas estaduais,
mas podemos oficiar qualquer algo público de algum problema que tá acontecendo.
Então recebemos o problema sobre isso, a gente oficia dizendo “ó, recebemos a
denúncia de que isso está acontecendo, segue aqui o oficio relacionado para
isso”, ou seja, uma forma totalmente republicana e institucional de lidar com
essas questões. A quarta funcionalidade do aplicativo é marcar reunião que vocês
marcaram comigo hoje, ou seja, marcar comigo ou com o especialista do time. Por
exemplo, o Brunet é nosso especialista de comunicação, marcar uma reunião com
ele direto, pessoal que é responsável pela parte de educação, responsável pela
parte jurídica, ou seja, a gente também tem essa possibilidade de marcar
reuniões diretas. Acho que é uma forma muito interessante de ter a participação
parlamentar. E a quinta funcionalidade é promover a transparência das nossas
contas do mandato, ou seja, quanto a gente está gastando com funcionário, com
assessores no gabinete, quanto a gente tá gastando relacionado à verba de
gabinete de cada gabinete para utensílios do time, ou seja, tudo isso está disponível
e isso é muito disruptivo porque aqui na Casa tem muita pouca informação sobre
isso. Tem uma estrutura geral que diz lá o Portal de Transparência, mas não
dividido por gabinete e é isso que a gente tem que fomentar mais. A gente
coloca lá os dados totalmente públicos pra consulta popular.
C: Justamente
em relação a essa transparência, você falou que o caminho seria uma
institucionalização dessa transparência, além de leis para tornar isso
obrigatório, mas até lá [...] quais medidas você acha que poderiam ser tomadas
para melhorar a transparência por gabinete?
R: é
isso realmente passa ou por projeto de lei ou por projeto de resolução. Projeto
de resolução diz sobre o regimento da casa, o funcionamento interno da casa,
que acho que também é uma ótima iniciativa. Como você disse, é um processo
demorado, mas a gente acredita que fazendo nossa parte no nosso gabinete isso
contamina de forma positiva ao entorno. Isso tem se mostrado muito verdade.
Nosso objetivo não é fazer algo para parecer que a gente é diferenciado, é por
que a gente realmente acredita nisso, a gente realmente acredita que deve ser
feito dessa forma. Isso acaba tendo um constrangimento positivo ao redor: as
pessoas falam “pô, tal gabinete tá sendo transparente com isso, vou correr
atrás pra fazer mais isso aqui”. Acho que isso é super positivo pra que a gente
possa realmente multiplicar. E aí a partir do momento em que estamos mais
abertos com isso, a gente consegue sugerir um projeto de resolução, como a
gente já fez, e ter mais possibilidades dele passar. Isso passa também pela própria
sociedade cobrando, sabe, seus representantes com isso. “Ó, vi que deputado x tá
fazendo isso, será que o deputado em quem votei tá fazendo algo também?”. Ou
seja, essa cobrança da sociedade também é fundamental para que isso possa se
multiplicar.
C:
[...] Considerando que você realizou sua graduação em Harvard, o que a
universidade brasileira pode aprender com Harvard ou com o ensino americano, em
geral?
R:
(risos) Essa pergunta é interessante. Eu acho que a universidade brasileira, primeiro,
nós temos diversas questões na nossa educação que precisam ser avançadas,
especialmente em educação básica. A nossa educação básica está muito atrás do
que a gente imaginara que deveria ser. Nossa educação superior tem diversos
problemas e diversos desafios, mas quando a gente olha de maneira comparativa, nossa
educação superior tem posição de destaque na América Latina, por exemplo. A
gente compete talvez só com Chili, sabe, todos os outros temos um sistema de
educação superior que está à frente, então temos o tripé de ensino, pesquisa e
extensão muito bem consolidado nas nossas universidades, principalmente nas
universidades públicas e nas privadas de destaque. Ou seja, a gente já tem um
avanço muito forte. A minha experiência é uma experiência muito diferente, mas
valorizo muito o ensino superior brasileiro, eu acho que a gente já conseguiu
lograr grandes questões no decorrer das décadas. Eu acho que tem duas coisas
que poderiam ser mais difundidas, fortalecidas, que foram muito fortes na minha
experiência em ter estudado em Harvard. A primeira diz respeito a uma flexibilidade
das aulas que eu posso fazer: lá em Harvard a gente tem a ideia de que você é o
arquiteto da sua educação, eu tenho obviamente um contrato com a universidade de
que vou me formar em alguma área específica, mas eu tenho muito menos aulas
obrigatórias do que aqui no Brasil. Eu tinha que fazer, por exemplo, um número x
de matérias obrigatórias, mas tinha muito mais matérias eletivas que estavam
mais próximas do que eu realmente tinha de prazer, de gostar com isso. Eu acho isso
é muito interessante porque fiz matérias em diferentes áreas, muito além do meu
curso só em Economia e Ciência Política: fiz matéria em filosofia, em negócios,
programação, psicologia, biologia... ou seja, fiz matérias de diferentes áreas
e tenho maior flexibilidade e acho isso muito interessante, é um fator. O
segundo fator é a experiência multicultural, você estudar com pessoas de
diferentes nacionalidades. Eu tive oportunidade de estudar com gente de mais de
80 nacionalidades diferentes, isso é muito forte, te dá uma perspectiva de
cidadão global muito interessante. Então assim, eu acho que as universidades
brasileiras podem avançar muito mais, atrair pessoas de outros países, ter
essas trocas, esses intercâmbios, isso é algo que enriquece muito nossa vivência
acadêmica.
C: Uma
última pergunta?
R:
Pode, claro!
C: Você
falou de educação básica, alguns usam esse argumento para o contingenciamento,
que é necessário investir mais na educação básica e para isso tirar da educação
superior. O que você acha disso?
R: Eu
acho que é preciso investir muito mais sim em educação básica, mas não em
detrimento da educação superior. Acho que são questões que podem ser tratadas
de modo distintas e esse argumento que o governo utilizou, o governo também
cortou na educação básica. Então isso não foi pra frente nessa questão de priorização.
O que acaba acontecendo é que quando a gente fala de educação superior, existem
custos que são custos de hospital universitário, laboratórios, que acabam,
realmente, encarecendo, e aí acaba tendo uma média maior por aluno. Agora, na
educação básica a gente tem um grande déficit para isso, a gente precisa
priorizar mais, precisa ter melhor gestão a respeito disso, que é algo muito
importante também, mais integração. Eu acredito então que é preciso se
fortalecer muito mais em educação básica, mas sem abrir mão que é muito
importante também que é a educação superior e o governo acabou caindo em
contradição quando cortou dos dois lados, ou seja, despriorizando dos dois
lados. Fazer ajuste fiscal, gente que tem mentalidade de responsabilidade
fiscal é muito bom, a gente tem que gastar o que a gente tem condições de
gastar, eu defendo isso. Agora, a gente tem que priorizar o que eu acredito que
seja maior prioridade que nesse caso é a educação, o Brasil posterga de forma
continua colocar a educação como projeto central desse país, da mesma forma que
já foi a volta da democracia, a estabilidade econômica, a inclusão social,
chegou a hora de educação de qualidade ser a principal bandeira do país. E
enquanto isso não acontecer, as amarras do subdesenvolvimento vão continuar nos
perseguindo e a gente precisa romper com essas amarras o quanto antes.
Gente,
obrigado! Espero que vocês tenham gostado e estamos a disposição e continuem a participar
do aplicativo, hein!
C:
Muito obrigado!
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