terça-feira, 21 de maio de 2019

Recomendação #24: Moondog

Moondog- Moondog
por Luca Szaniecki Cocco

Uma recomendação musical por semana...






Moondog é, sem menor dúvida, um dos artistas mais curioso e estranhos do último século. Sua estranheza pode ser aplicada tanto na sua vida quanto na sua obra.

Primeiro quanto à sua obra, Louis Harding teve uma vida musical extremamente privilegiado. Embora seu primeiro encontro com música tenha sido com a música Arapaho (indígena), foi em Nova York dos anos 40 e 50 que Louis presenciou uma experiência musical particularmente rica. Por um lado conheceu nomes ilustres da música clássica como Leonard Bernstein e Arturo Toscanini. Por outro, também conheceu grandes nomes de outro gênero extremamente importante da época, o jazz de Charlie “Bird” Parker, mas também de Benny Goodman, o rei do swing. A obra de Moondog consegue então, com extrema maestria, virtuosidade e originalidade, combinar esses diferentes elementos. Temos lindas passagens dignas de uma sinfonia clássica à melodias extremamente jazzy e estranhas. Embora, eu não saiba se jamais encontrou o compositor e contra-baixista, Charles Mingus, não consigo evitar de ver em suas composições uma enorme semelhança nessa estranha mistura de jazz big-band, música clássica e blues, além de percussões pouco utilizadas nos dois gêneros. Moondog também ficou conhecido por usar diferentes sons gravados (sons de baleia, por exemplo), tornando-se igualmente um enorme nome na sua música de vanguarda, tanto do jazz quanto da música clássica.

Sua influência no mundo da música também é extremamente diversificada, indo do rock ao jazz ao minimalismo de Philip Glass e Steve Reich. Infelizmente, a figura de Moondog sempre foi bastante enigmática e esquecida, porém, seus “discípulos” o fizeram viver através de suas obras.

Quanto a sua vida pessoal, o adjetivo que mais me pareceu adequado foi “peculiar”. Moondog adotou um estilo de vida bastante excêntrico ao viver nas ruas de Nova York por cerca de 20 anos, mesmo ganhando dinheiro com suas obras. Acabou ficando conhecido como o “Viking of the 6th Avenue”, nome homenageando sua estranha vestimenta nórdica. De fato, Moondog havia uma estranha fascinação pela cultura nórdica, até tinha um altar para Thor em sua casa de família. Tinha uma visão idealizada da Alemanha, em particular as terras do rio Reno (“The Holy Land and the Holy River”), onde decidiu estabelecer-se nos anos 70. Fora disso, apesar de uma de sua deficiência visual, Moondog, além de compor incríveis músicas, também foi criador de estranhíssimos instrumentos, como o trimba.

Enfim, quis mostrar como um sujeito como Moondog foi capaz de superar sua deficiência física e consagrar-se como uma das figuras mais excêntricas do cenário musical. Escolhi esse álbum em particular porque acho que engloba os principais aspectos da sua obra: a sua experimentação, sua influência clássica e jazzística. Porém, considero cada álbum de sua discografia uma verdadeira obra-prima.


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