sábado, 29 de junho de 2019

Capítulo 1: Prólogo de Kinogate

Capítulo 1: Prólogo de Kinogate
por Tomaz Lamego e Luca Szaniecki Cocco

















                                   Desenho por Luca Szaniecki Cocco


É difícil dizer quantos anos compõem nossa história. Em outras palavras, é difícil determinar quanto tudo começou, quando tempo começou a ser chamado de tempo. Enfim, muitos anos atrás, talvez milhares, talvez milhões de anos, um gigantesco portal surgiu em uma imensidão verde, deserta e silenciosa.

Enormes colunas de rocha escura, esculpidas por uma força sobrenatural, cobriram o horizonte montanhoso com sua sombra. No centro, um portão de ferro abria-se vagarosamente, revelando, não o outro lado do enorme monumento, mas sim, pura escuridão, como se o universo inteiro acabasse do outro lado da porta.

Pouco a pouco, o deserto se tornou cada vez mais povoado por pequenas e grandes criaturas multiformes, todas originárias do portal. Esses tempos ancestrais, que pouco conhecemos, acabaram denominando estes seres de “Ancestrais”. Seus corpos variavam do tamanho de um pequeno coelho até o de um colosso, porém, todos possuíam enorme poder. Embora poderosos, pouco sabiam do motivo de sua existência e viviam bastante isolados um dos outros, com poucas exceções.

Com o isolamento dos Ancestrais, em busca de um sentido para sua existência naquela imensidão verde e misteriosa, novos seres aproveitaram a situação para começarem a se unir. Milhares de criaturas surgiam diariamente do portal e, ao contrário da busca individualista dos Ancestrais, elas buscavam uma nova vida.

Humanos, ogros, elfos, anões, fadas, centauros, vampiros, lobisomens, esfinges, sátiros, ninfas, sereias, dragões, gigantes, golems, harpias, grifos, leviatãs, todos se uniam em busca de um propósito maior que eles mesmos, através da união e da construção de uma sociedade.

Três criaturas, em particular, foram consideradas os fundadores da cidade de Kinogate: o chamado de Papai Noel, Coelho da Páscoa e Fada do Dente. Não se enganem, seus nomes não foram dados pelos habitantes da cidade, mas sim de algum subconsciente misterioso que parecia os guiar na sua nova jornada. Os fundadores, ao lado de seus compatriotas, construíram imensas estradas, casas, museus, institutos, escolas, hospitais, tudo o que uma sociedade precisa para funcionar em plenitude. Juntos, acreditavam, conseguiriam entender o porquê de sua existência e o funcionamento do misterioso portal que se encontrava no centro de sua cidade. Os três fundadores decidiram, então, construir um centro de pesquisa do lado do portal, dedicado aos curiosos e estudiosos, ávidos por conhecimento.

Fora do alcance das jornadas solitárias dos ancestrais, a cidade de Kinogate tomava para si praticamente a totalidade do universo. As fronteiras do mundo conhecido, consistiam nas próprias fronteiras da metrópole. O momento era de paz e união, todos unidos pela mesma razão. Crime era uma palavra que desconheciam, assim como corrupção ou ódio.

Os anos de paz e prosperidade duraram talvez milhares de anos, marcados pela quase total falta de descobertas, apesar de todo os esforços dos estudiosos da Grande Torre de Papai Noel. Desde os tempos ancestrais, pouco havia se descoberto sobre o mundo no qual viviam ou sobre a natureza do Portal. Infelizmente, a paz não durou mais muito tempo.

Assim como a narrativa dos tempos ancestrais, pouco se sabe sobre como tudo começou, porém, podemos imaginar algumas coisas. Primeiro, dizem que tudo começou com a loucura. Alguns poucos habitantes começaram a ter sonhos estranhos e estes os influenciavam a cometer atos nunca vistos na cidade: roubos, agressões, assassinatos, entre outros. Antigamente, todo habitante morto, em acidentes, por exemplo, era ressuscitado através do Portal. Contudo, o Portal parou de reviver as primeiras vítimas dos crimes cada vez mais frequentes. Em segundo lugar, o clima. Os claros dias de até então foram substituídos por cada vez mais longas noites, escuras e frias, marcadas pela queda de água dos céus, fenômeno que foi chamado de “chuva” por algumas xamãs. Além disso, alguns poucos habitantes, os mais marcados pela loucura que os abatia, simplesmente sumiram e pouco já se sabia das rotas dos Ancestrais, agora já tidos como meras lendas.

Enfim, tudo isto foi se acumulando, até certo dia onde tudo definitivamente se transformou em trevas. Uma chuva diluviana abateu-se sobre a cidade, criando rios de destroços, sofrimento por todo canto. Um enorme tremor de terra, fenômeno, assim como a chuva, nunca antes experienciado, destruiu centenas de casas e provocou uma verdadeira modificação geográfica na cidade. Como dito antes, as fronteiras da cidade correspondiam praticamente às fronteiras do universo conhecido. Com a catástrofe, Kinogate parecia haver caído adentro das profundezas da terra; uma verdadeira descida aos infernos.

Kinogate nunca mais viu aquela estranha luz que os iluminava durante o dia. A chuva e o terremoto haviam criado uma enorme catástrofe em forma de uma cicatriz que rasgava a metrópole. A cidade se encontrava agora dividida por um enorme rio e repleta de refugiados. Muitos, particularmente, os gigantes, decidiram abandonar Kinogate para sempre, na esperança de um mundo melhor fora de suas fronteiras, cada vez mais corrompidas pela insanidade. Ademais, a descida da cidade também havia proporcionado novos perigos. Os arredores da cidade eram contornados de uma imensidão de trevas e planícies geladas, por onde, toda noite, monstros de sombras vinham atacar as bordas da sociedade. Papai Noel, diante de tanta calamidade, resolveu construir uma imponente muralha ao redor da cidade, assim protegendo-se das criaturas de sombras. Em seguida, no objetivo de entender melhor o que estava acontecendo com sua querida cidade, se trancou em sua linda torre.

A loucura que havia marcado os últimos anos de Luz em Kinogate aumentava rapidamente, assim como o número de desaparecimentos, até que, em um tenebroso dia, Papai Noel, Coelho da Páscoa e Fada do Dente foram definitivamente dados como de acordo. Na ausência de seu grande líder, a cidade mergulhou em um período de caos e guerra onde 5 gangues finalmente se estabilizaram como verdadeiras soberanas do território de Kinogate. Claramente influenciados pela insanidade, os líderes das gangues começaram a governar a cidade com punhos, cascos e gancho de ferro, levando ainda mais caos para os habitantes, isso sem contar as suas frequentes disputas internas.


Enfim, o começo de nossa história se passa bastante tempo depois do desaparecimento de Papai Noel. Ela começa com o aparecimento de estranhos objetos no rio que divide Kinogate em dois. Os pequenos objetos pareciam um tipo de representação visual jamais visto na cidade. Os curiosos retratos pareciam demonstrar de uma tecnologia alienígena que em outro universo poderíamos chamar de fotografia. Ao redor dos 5 personagens representados em cada um dos 5 retratos, podia-se também ver estranhas construções, muitas vezes iluminados por uma estranha fonte de energia luminosa, muito diferente do fogo de Kinogate. Rapidamente, os 5 retratos se tornaram fonte das mais absurdas teorias e acendiam os olhos das 5 gangues de Kinogate que, após algumas semanas de confusão, decidiram organizar um jogo…



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