domingo, 12 de agosto de 2018

Paraíso Perdido crítica


Paraíso Perdido
crítica por Lara Cléret

Paraíso Perdido, um filme nacional de Monique Gardenberg que encanta o espectador dês do início. Saí da sessão com algumas dúvidas, mas com uma felicidade imensa. É um filme poderoso que, com seus charmes, atrai o espectador.



O longa-metragem começa com um monólogo de José (Erasmo Carlos) que convida o público a se entregar ao Paraíso Perdido, “o lugar para aqueles que sabem amar” e segue com os clássicos da música brega nas vozes de cantores como Erasmo CarlosJaloo (a travesti Imã, no filme), e Seu Jorge (Teylor, personagem cômico e descontraído).

Cantores e atores dividem a cena deste clube noturno onde canto e teatro se confundem, onde os gestos, os olhares e as emoções são extremamente importantes, criando assim a magia do lugar. O enfoque se dá nos conflitos familiares, mas sobretudo nas histórias de amor que desenham a narrativa e acompanham cada personagem.

O policial Odair (Lee Taylor) vai parar neste paraíso perdido e acaba se tornando o segurança de Imã, vítima de muitas agressões. Ele aos poucos se encontra no meio dos problemas pessoais desta família a quem pertence o bar. O avo, José, seus dois filhos Ângelo (Júlio Andrade) e Eva (Hermila Guedes), e seus respectivos filhos, Celeste (Julia Konrad) e Imã.

A trama apresenta um leve suspense mal resolvido que é o principal problema da narrativa. Uma menina, com o rosto violentado, entra gravida em um apartamento e sob o olhar de uma criança de sete anos de idade atira num corpo misterioso. Este flashback poderia encaminhar a um melhor encadeamento de fatores que levassem o espectador a obter respostas necessárias para uma compreensão mais precisa do filme. A falta de precisão, gera algumas confusões e o roteiro parece não ter conseguido dar conta de questões que deixam um certo desconforto: como, por exemplo, a razão do assassinato, o porquê do rosto da menina estar agredido e o interesse da personagem Milena (Marjorie Estiano) na trama, que é solta da prisão um tempo após sua companheira Eva ter sido liberada.

Mas estas dúvidas que o longa não da conta são apenas meros detalhes perto do que é privilegiado. A música do filme, designada como brega, é na verdade extremamente romântica, sofrida e guia o espectador, construindo todo este universo das boates nos anos 70. Os figurinos brilhantes, coloridos e bem pensados também ajudam na submersão do público dentro deste cenário. Mas as relações entre os personagens, e os personagens em questão são o ponto forte da obra, e toda a sensibilidade e sensualidade que estes emanam marcam o espectador. Principalmente Imã, um jovem que diante de tanta violência e maus tratos encontra o amor, recebe amor, e da de sobra. Sempre leve, sorrindo, amando.

É em uma conversa entre Imã e seu tio Ângelo, que surge uma das minhas frases prediletas do filme é “As pessoas não te odeiam pelo que você é, mas pelo que não conseguem ser” e, desta forma, este personagem traz um pouco de conforto e esperança. Pois diante de tanta maldade, vê o lado bom das coisas e consegue ser feliz. As cenas em que Odair se comunica com sua mãe, Nádia (Malu Galli), através da língua dos sinais, também são de uma extrema delicadeza e ternura.

O desfecho pode ser decepcionante para alguns, já que tudo se resolve numa facilidade e rapidez anormal. Nádia, uma ex-cantora que perdeu a audição a um tempo e se encontrava presa em casa com pavor de sair, consegue tão rapidamente afastar o seu medo e reencontrar o amor de sua vida. Portanto, este ar miraculoso no final pode ser um alívio para outros, pois permite se afastar da realidade e ainda crer num mundo singelo onde o amor prevalece.





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