Paraíso
Perdido
crítica
por Lara Cléret
Paraíso
Perdido, um filme nacional de Monique Gardenberg que encanta o
espectador dês do início. Saí da sessão com algumas dúvidas, mas
com uma felicidade imensa. É um filme poderoso que, com seus
charmes, atrai o espectador.
O
longa-metragem começa com um monólogo de José (Erasmo Carlos)
que convida o público a se entregar ao Paraíso Perdido, “o lugar
para aqueles que sabem amar” e segue com os clássicos da música
brega nas vozes de cantores como Erasmo Carlos, Jaloo (a
travesti Imã, no filme), e Seu Jorge (Teylor,
personagem cômico e descontraído).
Cantores
e atores dividem a cena deste clube noturno onde canto e teatro se
confundem, onde os gestos, os olhares e as emoções são
extremamente importantes, criando assim a magia do lugar. O enfoque
se dá nos conflitos familiares, mas sobretudo nas histórias de amor
que desenham a narrativa e acompanham cada personagem.
O
policial Odair (Lee Taylor) vai parar neste paraíso perdido e
acaba se tornando o segurança de Imã, vítima de muitas agressões.
Ele aos poucos se encontra no meio dos problemas pessoais desta
família a quem pertence o bar. O avo, José, seus dois filhos Ângelo
(Júlio Andrade) e Eva (Hermila Guedes), e seus
respectivos filhos, Celeste (Julia Konrad) e Imã.
A
trama apresenta um leve suspense mal resolvido que é o principal
problema da narrativa. Uma menina, com o rosto violentado, entra
gravida em um apartamento e sob o olhar de uma criança de sete anos
de idade atira num corpo misterioso. Este flashback poderia
encaminhar a um melhor encadeamento de fatores que levassem o
espectador a obter respostas necessárias para uma compreensão mais
precisa do filme. A falta de precisão, gera algumas confusões e o
roteiro parece não ter conseguido dar conta de questões que deixam
um certo desconforto: como, por exemplo, a razão do assassinato, o
porquê do rosto da menina estar agredido e o interesse da personagem
Milena (Marjorie Estiano) na trama, que é solta da prisão um tempo
após sua companheira Eva ter sido liberada.
Mas
estas dúvidas que o longa não da conta são apenas meros detalhes
perto do que é privilegiado. A música do filme, designada como
brega, é na verdade extremamente romântica, sofrida e guia o
espectador, construindo todo este universo das boates nos anos 70. Os
figurinos brilhantes, coloridos e bem pensados também ajudam na
submersão do público dentro deste cenário. Mas as relações entre
os personagens, e os personagens em questão são o ponto forte da
obra, e toda a sensibilidade e sensualidade que estes emanam marcam o
espectador. Principalmente Imã, um jovem que diante de tanta
violência e maus tratos encontra o amor, recebe amor, e da de sobra.
Sempre leve, sorrindo, amando.
É
em uma conversa entre Imã e seu tio Ângelo, que surge uma das
minhas frases prediletas do filme é “As pessoas não te odeiam
pelo que você é, mas pelo que não conseguem ser” e, desta forma,
este personagem traz um pouco de conforto e esperança. Pois diante
de tanta maldade, vê o lado bom das coisas e consegue ser feliz. As
cenas em que Odair se comunica com sua mãe, Nádia (Malu Galli),
através da língua dos sinais, também são de uma extrema
delicadeza e ternura.
O
desfecho pode ser decepcionante para alguns, já que tudo se resolve
numa facilidade e rapidez anormal. Nádia, uma ex-cantora que perdeu
a audição a um tempo e se encontrava presa em casa com pavor de
sair, consegue tão rapidamente afastar o seu medo e reencontrar o
amor de sua vida. Portanto, este ar miraculoso no final pode ser um
alívio para outros, pois permite se afastar da realidade e ainda crer
num mundo singelo onde o amor prevalece.
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