Uma
criança abre os olhos. Ela vê o escuro da noite. Virada para o
teto, ela aperta o cobertor com as mãos, uma lágrima cai, ela fixa
as sombras do quarto com todas as forças de seus olhos. Um medo,
forte, é o que ela sente agora. Um pesadelo invadiu sua noite para
deixar tudo mais instável e absurdo. O cansaço acumulado da rotina
se transformou em uma tensão que ele nunca tinha experimentado. Que
estranho...
Em
uma mistura de coragem e desespero ele corre até a sala onde sua mãe
lia. A criança se lança aos seus braços, a agarra com todo seu
corpo e chora.
-
Meu filho! Calma está tudo bem... Está tudo bem, repete a mãe
cansada junto ao filho. Vai ficar tudo bem... Foi só um sonho.
Sonhos não existem, eles não podem te fazer nenhum mal... Calma meu
filho está tudo bem.
O
garoto faz o corpo da mãe tremer a cada lágrima que cai de seu
rosto. Já não dá mais para discernir entre um choro e um grito de
desespero. O menino aperta a mãe como se fosse um detento beijando
uma última vez sua esposa. O desespero na tão jovem, tão ingênua,
tão simples criança cresce mais e mais. Uma máquina a vapor de
medo e raiva. Por que isso tinha que acontecer com ele? Justo esta
noite, onde não havia nada a dar errado. Tudo estava perfeito! A mãe
feliz, o pai tomando seu banho e o filho dormindo. O tudo digno de
uma noite perfeita. Mas o mal teve que vir! Teve que aparecer em
algum momento! Nada o pode impedir, nada pode conter seus gemidos e
sustos.
-
Já chega! Não aguento mais mãe! Não quero mais me sentir assim!
Não quero!
-
Assim? Assim como?
-
Assim! Deste jeito mórbido. Não quero mais aguentar as noites, os
dias, os sóis, as luas. Nada! Nunca mais conseguirei sentir a tão
viva calma de deitar na cama e respirar, sem medo, sem angústia, sem
cansaço. Ei de me jogar em momentos eternos, passando do extremo
nervoso ao simples ódio. Não desejo mais aguentar estes medos,
estas faltas de esperanças, estes enganos. Você mentiu, como
sempre, e continua mentindo. Nada ficará bem, tudo ficará mal, para
sempre. E além de todos estes imensos absurdos, ainda tenho que
viver sem saber se existe alguma verdadeira alegria ou não, alguma
verdadeira calma, alguma consciência sem medo, algum repouso!
O
garoto, que já não é mais o mesmo, pergunta para a mãe antes de
se abandonar à angústia:
-
Porque você me fez? Para sofrer? Você me odeia tanto assim?
-
Filho! Pare com isso!
Ele
foge para seu quarto sem dizer mais nada. A mãe não entendia. O
medo havia acabado com tudo? Mas ele ainda nem tinha visto toda a
vida. Ela se levanta, mas o coração pesa muito, e a joga ao chão,
onde uma poça de mágoas, de erros, de arrependimentos despedaça
cada membro da mãe, e onde tudo chega ao seu fim. A cada lágrima,
deixada como um vestígio, sentia-se as desculpas e mentiras. Tudo
seria tão simples, se não fosse pela própria existência.
O
medo consome a criança. Ela pega seu cobertor e se enrola nele. O
monstro que a assombrou durante a noite não importa. O que deve ser
considerado é o choro, a tristeza, os efeitos. As causas não serão
vistas por nós; não é nosso trabalho. Mas, ao ver e sentir esta
cena, entendemos que o Monstro do sonho voltará à assombrar não só
as noites mas também os dias da criança.
O
pai bate à porta, ele entra devagar. Seu filho ainda chora de medo e
desconforto.
-
Não sinta medo. A felicidade existe e te procura.
Ele
beija a testa da criança. Nasce um sorriso.
Miguel
Boisseleau
Nenhum comentário:
Postar um comentário