Sons of Kemet- Your Queen Is A Reptile
por Luca Szaniecki Cocco
Uma recomendação musical quase toda semana...
Nem sei por onde começar com esse álbum (fora a linda capa). Já havia escutado Sons of Kemet antes, porém, esse álbum me impactou muito mais que os outros dois. A banda, composta por incríveis e virtuosos músicos, é conhecida por misturar jazz com polirritmia africana, assim como elementos de música caribenha, brass, ska, entre outros. O conjunto usa a memória musical do jazz para criar uma única e singular linguagem. Aliás, é o primeiro álbum do grupo gravado pela “Impulse!”, gravadora de grande importância no jazz, tendo gravado grandes nomes como John Coltrane ou Charles Mingus.
por Luca Szaniecki Cocco
Uma recomendação musical quase toda semana...
Nem sei por onde começar com esse álbum (fora a linda capa). Já havia escutado Sons of Kemet antes, porém, esse álbum me impactou muito mais que os outros dois. A banda, composta por incríveis e virtuosos músicos, é conhecida por misturar jazz com polirritmia africana, assim como elementos de música caribenha, brass, ska, entre outros. O conjunto usa a memória musical do jazz para criar uma única e singular linguagem. Aliás, é o primeiro álbum do grupo gravado pela “Impulse!”, gravadora de grande importância no jazz, tendo gravado grandes nomes como John Coltrane ou Charles Mingus.
O
“líder”, Shabaka Hutchings, é um grande nome do jazz
hoje em dia e toca nesse álbum o seu saxofone com simplicidade,
porém, com muita energia e emoção, refletindo um estilo clássico
de Nova Orleãs, perceptível também no som de Louis Armstrong. Ele
é acompanhado por dois incríveis bateristas (Seb Rochford e Tom
Skinner) que criam essa atmosfera de pura energia e positividade.
Enfim, a cereja do bolo é Theon Cross na tuba, que contribui com um
som extremamente original e ritmado para o álbum. Definitivamente um
dos usos de tuba mais interessantes na história das bandas de
jazz.
Como
dito, o álbum consegue misturar todos esses diferentes gêneros e
formar uma música incrivelmente ritmada, energética e poderosa,
tanto no sentido musical quanto político. De fato, embora seja
majoritariamente instrumental, o álbum claramente brinca com o
nacionalismo britânico, ou seja um belo tapa na cara para um país
que acabou de votar para o Brexit e que permanece num limbo desde
então (inclusive, Theresa May acaba de soffrer uma grande derrota
política no Parlamento). Em vez de de homenagear a rainha da
Inglaterra, Hutchings decide homenagear grandes nomes de resistência,
rebelião e de cunho pessoal. Confiram o nome das músicas:
-My
queen is Ada Eastman: Pequena homenagem de Shabaka a sua bisavó de
Barbados que trabalhou muito para sustentar sua família.
-My
queen is Mamie Phipps Clark: psicóloga americana que estudou os
efeitos psicológicos negativos da segregação em estudantes
Afro-americanos.
-My
queen is Harriet Tubman: ativista abolicionista que realizou diversas
missões de resgate de escravos no sul dos Estados-Unidos. Anos mais
tarde, também militou pelo sufrágio feminina.
-My
queen is Anna Julia Cooper: socióloga, educadora e autora, quarta
mulher afro-americana a obter um doutorado.
-My
queen is Angela Davis: ativista política, próxima do movimento dos
Panteras Negras e pensadora feminista.
-My
queen is Nanny of the Maroons: líder que ao escapar da escravidão
fundou uma comunidade maroon na Jamaica.
-My
queen is Yaa Asantewaa: liderou, em nome do império Ashanti, da
atual Gâmbia, uma guerra contra o colonialismo britânico
-My
queen Albertina Sisulu: ativista anti-apartheid da África do Sul.
-My
queen is Doreen Lawrence: Britânica de origem Jamaicana cujo filho
foi assassinado por um ataque racista em Londres em 1993. Promoveu
reformas no sistema policial e fundou o “Stephen Lawrence
Charitable Trust”.
Cada
música consegue se impor de maneira sólida e independente, cada
rainha tendo sua própria personalidade, algumas mais energéticas,
outras mais melódicas e calmas. Apesar dessa diversidade, o álbum
consegue se construir perfeitamente na sua totalidade sob uma única
identidade: a energia de inovação e resistencia que inspirou todas
essas mulheres fortes.
Para
concluir, o álbum constitui uma forte mensagem e homenagem a grandes
personagens de resistência e inovação, cujas personalidades
refletem na forte energia musical.
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