Neutral Milk Hotel: In the Aeroplane over the Sea
por Elisa Capdeville e Luca Szaniecki Cocco
No lugar de uma clássica recomendação musical, Elisa e Luca escreveram um texto (bastante experimental) sobre a banda Neutral Milk Hotel e seu mais conhecido álbum: In the Aeroplane Over the Sea. Esperamos que esse texto possa alegrar seu dia em tempos sombrios como estes.
[Luca]:
Já faz um pouco mais de 20 anos que Neutral Milk Hotel lançou seu
icônico álbum, In the Aeroplane Over the Sea. Contextualizando, a
banda foi criada em 1989 e lançou uma pequena série de álbuns
independentes até conseguirem um contrato com uma gravadora chamada
Elephant 6. Nesse contexto, In the Aeroplane Over the Sea poderia ser
considerado mais um desses álbuns de indie-rock do final dos anos
90, ou pior, mais um desses álbuns experimentais e psicodélicos (muito inspirados nos Beatles) do
Elephant 6. Felizmente, não foi o caso, e Aeroplane é considerado
um dos melhores álbuns dos anos 90 e da história da música e vamos
tentar provar essa importância.
~~~~
[[Enquanto
isso, em outro universo, nas páginas do google docs.
compartilhado...
[Elisa]:
Oi gato.
[Luca]: Sempre aqui ?
[E]:
Se você estiver eu to também...rsrs.
[L]: Só vem.
[E]: Já vou deixa eu só terminar de discutir com um bolsominion.
[L]:
kkkkkkk boa sorte.
[L]:
to terminando de ler uma coia e já venho também.
[E]: Beleuza.
]]
~~~
[L]:
Paradoxalmente, o álbum não foi inicialmente bem aceito pelo
público e pela crítica: NMH havia criado um clássico polarizante.
O público então se dividiu radicalmente entre os que consideravam o
álbum infantil e barulhento, e os que criaram um verdadeiro culto à
energia pulsante da obra de NMH. Não podemos ignorar que, do lado
dos que o odiaram, havia uma certa visão estereotipada das bandas de
rock-indie da época que, provavelmente, influenciou no julgamento.
De fato, NMH era contemporâneo de bandas como The Strokes, White
Stripes e The Hive que, para o bem ou para o mal, encarnavam um tipo
de indie-rock do “fashion”, do “cool”, das drogas e do sexo,
claramente revivendo uma longa mitologia do rock.
[Elisa]:
Sinto que a banda se perdeu no meio das outras bandas indies mais
ativas dos dias de hoje, que embora muito boas (sou super fã de The
Strokes e Franz Ferdinand, por exemplo) criam músicas mais comerciais
do que as que Neutral Milk Hotel nos traz.
[L]: Neutral Milk Hotel foi inovador neste sentido pois encarnava todo o
contrário. Aliás, a primeira música oficial de Neutral Milk Hotel
(lançada em seu primeiro álbum, On Avery Island, em 1996) se chama
“Song against Sex”. Do outro lado, o culto do álbum (inclusive
elogiado por bandas como Arcade Fire, Franz Ferdinand, entre outras)
não foi capaz de reviver a banda que passou por um longo período de
silêncio nos anos 2000, apenas se reencontrando pontualmente para
realizar alguma turnê.
Da esquerda para a direita: Jeff Mangum (vocalista), Scott Spillane (instrumentos de sopro), Julian Koster (multi-instrumentalista: acordẽao, banjo...) e Jeremy Barnes (bateria)
[E]:
Eu fiquei chocada quando descobri que a banda era dos anos 90 e
estava por hiatus indefinido durante os anos 2000, pois quando a descobri por acaso, fuçando a internet, para mim que não
conhecia nada sobre sua história, me parecia ser uma banda
recente de indie-folk que ainda não tinha feito sucesso mas que
prometia um dia chegar lá. Afinal, como nenhum amigo meu conhecia
essas músicas maravilhosas? Errei, ela já tinha feito sucesso mais
de uma década atrás. Porém, eles não buscavam a fama, tanto que
pararam pouco tempo depois de começarem a fazer sucesso pois não
tinham lidado tão bem com isso. O único motivo era expressar-se,
principalmente para Jeff (Mangum, o vocalista e líder da banda).
[L]:
Saindo do contexto, passemos então ao álbum em si.
[E]:
As 11 faixas se completam tanto pela história que contam quanto pela
sonoridade. Elas são a maioria ligadas entre elas, como se fossem
parte de uma mesma história que está sendo contada, cada uma um
capítulo. King of Carrot Flowers pt.1 introduz o álbum com
um som de violão folk animado e tranquilo, quase inocente, se não
fosse por sua letra. Faz menção a infância e a juventude, falando
tanto de brincadeiras de criança quanto de brigas entre os pais.
[L]:
Acho muito difícil descrever Aeroplane da mesma maneira com a qual
falo de outros álbuns. Poderia escrever muito sobre como NMH mistura
folk, música do leste europeu, jazz e punk, mas o que surpreende
nesse álbum é que nada disso interessa ou importa na sua experiência. In the Aeroplane over the
sea é um álbum sobre sensações.
~~~
[[
[E]: Nossa falou tudo gato: SENSAÇÕES.
[E]: Vai na fé.
[E]: To escrevendo embaixo de ti se quiser dar uma olhada.
[L]:
kkkkkkkkk só espera que tem mais.
[L]: To inspirado.
[L]: Quando acabar leio o seu.
]]
~~~
[Luca]:
Muitos tentam definir (em vão), tentam limitar Aeroplane a um ou
dois temas principais: "Aeroplane é sobre meditação e trauma, ou
sobre inocência e crueldade, perda e esperança". Estão errados,
Aeroplane é sobre tudo isso e mais, muito mais. É sobre a sensação de viver e
perder, a sensação da pele sobre a grama, de você sentir o vento e
sobre chorar a morte.
[Elisa]:
É a sensação de correr pela grama, não se preocupar de se sujar e
de se molhar.
[L]:
É sobre você sentir o vento no rosto
[E]:
É o que eu chamo de “música de trilha sonora”. São as que
fazem você se arrepiar quando está no carro ouvindo e olhando pela
janela, com o vento batendo no rosto.
[L]:
É sobre chorar a morte e rir da vida.
[E]:
É ouvir a música e criar toda uma história na sua cabeça, ver na
mente cenas de filme inspiradas nas letras tão simples mas também
tão sentimentais das canções.
[L]:
É isso o que há de incrível nesse álbum: com uma letra fantástica e até infantil, a banda constrói uma atmosfera ao mesmo tempo pura, inocente e mórbida. Aeroplane é um daqueles álbuns que te fazem
parar um segundo e pensar: “o que estou fazendo da minha vida?”.
É um daqueles álbuns que te faz valorizar cada segundo, cada mini
instante da sua vida. Para citar Mark Richardson na Pitchfork (site
sobre música): o álbum poẽ “fé na crua sensação”. Jeff
Mangum (vocalista) não quis nem tentou fazer sentido nas suas
canções. Tentar por algo de lógica nesse álbum é perder a
mágica, é perder a sensação.
O
álbum é toda uma região a ser explorada, um mundo fantástico cheio de
sensações indefinidas, onde passado, presente e futuro se juntam
numa bagunça digna de um quarto de criança. Pareço perder alguns
anos ao escutar a voz delirante e mágica de Mangum.
[E]:
E não importa se a voz do vocalista não é perfeita, tem falhas.
Por que ele canta com todo o coração. Ele se joga na música de
olhos fechados, fazendo o som que ele bem-quiser.
~~~
[[
[E]: Mano
sabia q quando eu fui pra Inglaterra pela primeira vez eu vi um
quadro na national gallery que me inspirou muito pra uma história q eu
escrevo desde então.
[E]: E foi na mesma época, tipo no mesmo mês q eu descobri NMH e os dois se
encaixaram perfeitamente.
[E]: Foi
tipo a musica encaixava com o que eu já tinha criado, e também me inspirou
pra criar mais partes da história.
[L]: fodaaaa,
cara esse álbum te inspira pra qualquer coisa, e sempre me ajuda.
[E]: Quero
te contar a história um dia
]]
~~~
[L]:
Uma das principais inspirações da banda foi o diário de Anne
Frank. Jeff Mangum (já citado anteriormente) o leu em apenas dois
dias e chorou por três. Acho que todo o álbum fica mais claro ao
entender essa relação. O álbum é uma homenagem à vida, à
infantilidade na sua maior positividade e energia, e ao mesmo tempo o
choro para a morte, para o desespero.
[E]:
Descobriu-se que a história contada por essa e outras músicas da
banda são um pouco baseadas na própria vida do integrante Jeff
Magnum. Ao longo do álbum, o sentimento de nostalgia da infância é
muito presente.
As
letras escritas por Magnum são super pessoais, mesmo que não sejam
todas autobiográficas. Analisando o conjunto das faixas de Aeroplane
Over The Sea, observa-se que o autor fala sobre Anne Frank
(autora do diário que virou um dos maiores sucessos de livraria pois
são os relatos cotidianos de uma menina que se escondeu dos oficiais
nazistas durante a segunda guerra mundial por ser de família judia).
Magnum fala da menina como se ele fosse um personagem que faz parte
de sua história, um amante, que viu toda a perseguição acontecer,
e enfim, a execução de Anne Frank, sob seus olhos, ainda um
adolescente que não acredita na maldade do mundo. Que se pudesse
escolher, continuaria para sempre vivendo os momentos felizes da
juventude. Parece que o eu-lírico (seja ele o próprio Jeff ou um
personagem da história de Anne Frank) não consegue, e nem quer se
desvencilhar dos fantasmas do passado. Jeff afirmou que acreditava
que existia um fantasma morando em sua casa. Fosse isso simplesmente
imaginação de uma criança ou algo a mais, teve impacto na obra do
músico.
[L]:
Mesmo com toda essa profundidade a ser explorada, não adianta
analisar filosoficamente Aeroplane, é questão de sentir a mensagem.
A sensação será a mesma (ou parecida), mas as consequências e
interpretações não. Alguns podem ter vontade, aquela tendência
nudista a sair correndo pelado pela praia gritando.
~~~
[[
[Elisa]: To
sabendo das suas tendências nudistas hein luca kkj
]]
~~~
[L]:
Outros se imaginarão numa montanha, perto de uma fogueira. Outros
ainda, sentirão aquele arrependimento, aquela vontade de pedir
perdão ou de perdoar. Não sei mais o que dizer. Também não sei se
estou sendo claro. Mas acho que esse é um pouco o risco do álbum:
deixar-se levar e arriscar, sem lógica, sem sentido, sem critérios.
[Elisa]:
De um certo modo, fico feliz que hoje em dia não tenha muitos jovens
que escutam NMH. Mostra que a banda é especial para cada um que a
ouve, não só uma dentre as bandas que tocam nas rádios
alternativas. Cada fã tem o seu momento quando ouve Aeroplane Over
The Sea, cada um dá o seu próprio significado.
[Luca]:
Se
você sentiu o quis dizer, fico muito feliz.
Para
acabar, eu, como fã do álbum, sempre fiquei decepcionado por não
ter tido mais álbuns do NMH. Outro dia, ao assistir um vídeo sobre
Jeff, escutei algo que me fez mudar de ideia. Ao ser perguntado
porque havia parado de produzir música, Jeff respondeu com muita
franqueza: “Eu não havia mais o que dizer”.
~~~
[[
[E]: Nossa me manda essa entrevista do Jeff q ele fala isso pfvr eu quero
casar c esse cara
[L]: Já te mando.
[L]: Cara não deleta a nossa conversa aqui no docs, tive uma ideia,
depois te mostro.
[E]: Ok
[L]:
Pronto, acabei, meu fluxo passou, fiquei até com dor de cabeça
[L]:
Vou ler o seu
]]
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O texto pode estar confuso, experimental, maluco, mas o que é a vida senão uma confusão, um experimento e uma maluquice ?
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