domingo, 14 de outubro de 2018

Neutral Milk Hotel: In the Aeroplane over the Sea


Neutral Milk Hotel: In the Aeroplane over the Sea
por Elisa Capdeville e Luca Szaniecki Cocco

No lugar de uma clássica recomendação musical, Elisa e Luca escreveram um texto (bastante experimental) sobre a banda Neutral Milk Hotel e seu mais conhecido álbum: In the Aeroplane Over the Sea. Esperamos que esse texto possa alegrar seu dia em tempos sombrios como estes. 



[Luca]: Já faz um pouco mais de 20 anos que Neutral Milk Hotel lançou seu icônico álbum, In the Aeroplane Over the Sea. Contextualizando, a banda foi criada em 1989 e lançou uma pequena série de álbuns independentes até conseguirem um contrato com uma gravadora chamada Elephant 6. Nesse contexto, In the Aeroplane Over the Sea poderia ser considerado mais um desses álbuns de indie-rock do final dos anos 90, ou pior, mais um desses álbuns experimentais e psicodélicos (muito inspirados nos Beatles) do Elephant 6. Felizmente, não foi o caso, e Aeroplane é considerado um dos melhores álbuns dos anos 90 e da história da música e vamos tentar provar essa importância.

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[[Enquanto isso, em outro universo, nas páginas do google docs. compartilhado...

[Elisa]: Oi gato.

[Luca]: Sempre aqui ?

[E]: Se você estiver eu to também...rsrs.

[L]: Só vem.

[E]: Já vou deixa eu só terminar de discutir com um bolsominion.

[L]: kkkkkkk boa sorte.

[L]: to terminando de ler uma coia e já venho também.

[E]: Beleuza.

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[L]: Paradoxalmente, o álbum não foi inicialmente bem aceito pelo público e pela crítica: NMH havia criado um clássico polarizante. O público então se dividiu radicalmente entre os que consideravam o álbum infantil e barulhento, e os que criaram um verdadeiro culto à energia pulsante da obra de NMH. Não podemos ignorar que, do lado dos que o odiaram, havia uma certa visão estereotipada das bandas de rock-indie da época que, provavelmente, influenciou no julgamento. De fato, NMH era contemporâneo de bandas como The Strokes, White Stripes e The Hive que, para o bem ou para o mal, encarnavam um tipo de indie-rock do “fashion”, do “cool”, das drogas e do sexo, claramente revivendo uma longa mitologia do rock.

[Elisa]: Sinto que a banda se perdeu no meio das outras bandas indies mais ativas dos dias de hoje, que embora muito boas (sou super fã de The Strokes e Franz Ferdinand, por exemplo) criam músicas mais comerciais do que as que Neutral Milk Hotel nos traz.

[L]: Neutral Milk Hotel foi inovador neste sentido pois encarnava todo o contrário. Aliás, a primeira música oficial de Neutral Milk Hotel (lançada em seu primeiro álbum, On Avery Island, em 1996) se chama “Song against Sex”. Do outro lado, o culto do álbum (inclusive elogiado por bandas como Arcade Fire, Franz Ferdinand, entre outras) não foi capaz de reviver a banda que passou por um longo período de silêncio nos anos 2000, apenas se reencontrando pontualmente para realizar alguma turnê.

Da esquerda para a direita: Jeff Mangum (vocalista), Scott Spillane (instrumentos de sopro), Julian Koster (multi-instrumentalista: acordẽao, banjo...) e Jeremy Barnes (bateria)

[E]: Eu fiquei chocada quando descobri que a banda era dos anos 90 e estava por hiatus indefinido durante os anos 2000, pois quando a descobri por acaso, fuçando a internet, para mim que não conhecia nada sobre sua história, me parecia ser uma banda recente de indie-folk que ainda não tinha feito sucesso mas que prometia um dia chegar lá. Afinal, como nenhum amigo meu conhecia essas músicas maravilhosas? Errei, ela já tinha feito sucesso mais de uma década atrás. Porém, eles não buscavam a fama, tanto que pararam pouco tempo depois de começarem a fazer sucesso pois não tinham lidado tão bem com isso. O único motivo era expressar-se, principalmente para Jeff (Mangum, o vocalista e líder da banda).

[L]: Saindo do contexto, passemos então ao álbum em si.

[E]: As 11 faixas se completam tanto pela história que contam quanto pela sonoridade. Elas são a maioria ligadas entre elas, como se fossem parte de uma mesma história que está sendo contada, cada uma um capítulo. King of Carrot Flowers pt.1 introduz o álbum com um som de violão folk animado e tranquilo, quase inocente, se não fosse por sua letra. Faz menção a infância e a juventude, falando tanto de brincadeiras de criança quanto de brigas entre os pais.

[L]: Acho muito difícil descrever Aeroplane da mesma maneira com a qual falo de outros álbuns. Poderia escrever muito sobre como NMH mistura folk, música do leste europeu, jazz e punk, mas o que surpreende nesse álbum é que nada disso interessa ou importa na sua experiência. In the Aeroplane over the sea é um álbum sobre sensações.

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[E]: Nossa falou tudo gato: SENSAÇÕES.

[E]: Vai na fé.

[E]: To escrevendo embaixo de ti se quiser dar uma olhada.

[L]: kkkkkkkkk só espera que tem mais.

[L]: To inspirado.

[L]: Quando acabar leio o seu.

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[Luca]: Muitos tentam definir (em vão), tentam limitar Aeroplane a um ou dois temas principais: "Aeroplane é sobre meditação e trauma, ou sobre inocência e crueldade, perda e esperança". Estão errados, Aeroplane é sobre tudo isso e mais, muito mais. É sobre a sensação de viver e perder, a sensação da pele sobre a grama, de você sentir o vento e sobre chorar a morte.

[Elisa]: É a sensação de correr pela grama, não se preocupar de se sujar e de se molhar.

[L]: É sobre você sentir o vento no rosto

[E]: É o que eu chamo de “música de trilha sonora”. São as que fazem você se arrepiar quando está no carro ouvindo e olhando pela janela, com o vento batendo no rosto.

[L]: É sobre chorar a morte e rir da vida.

[E]: É ouvir a música e criar toda uma história na sua cabeça, ver na mente cenas de filme inspiradas nas letras tão simples mas também tão sentimentais das canções.

[L]: É isso o que há de incrível nesse álbum: com uma letra fantástica e até infantil, a banda constrói uma atmosfera ao mesmo tempo pura, inocente e mórbida. Aeroplane é um daqueles álbuns que te fazem parar um segundo e pensar: “o que estou fazendo da minha vida?”. É um daqueles álbuns que te faz valorizar cada segundo, cada mini instante da sua vida. Para citar Mark Richardson na Pitchfork (site sobre música): o álbum poẽ “fé na crua sensação”. Jeff Mangum (vocalista) não quis nem tentou fazer sentido nas suas canções. Tentar por algo de lógica nesse álbum é perder a mágica, é perder a sensação.


O álbum é toda uma região a ser explorada, um mundo fantástico cheio de sensações indefinidas, onde passado, presente e futuro se juntam numa bagunça digna de um quarto de criança. Pareço perder alguns anos ao escutar a voz delirante e mágica de Mangum.

[E]: E não importa se a voz do vocalista não é perfeita, tem falhas. Por que ele canta com todo o coração. Ele se joga na música de olhos fechados, fazendo o som que ele bem-quiser.

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[E]: Mano sabia q quando eu fui pra Inglaterra pela primeira vez eu vi um quadro na national gallery que me inspirou muito pra uma história q eu escrevo desde então.

[E]: E foi na mesma época, tipo no mesmo mês q eu descobri NMH e os dois se encaixaram perfeitamente.

[E]: Foi tipo a musica encaixava com o que eu já tinha criado, e também me inspirou pra criar mais partes da história.

[L]: fodaaaa, cara esse álbum te inspira pra qualquer coisa, e sempre me ajuda.

[E]: Quero te contar a história um dia

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[L]: Uma das principais inspirações da banda foi o diário de Anne Frank. Jeff Mangum (já citado anteriormente) o leu em apenas dois dias e chorou por três. Acho que todo o álbum fica mais claro ao entender essa relação. O álbum é uma homenagem à vida, à infantilidade na sua maior positividade e energia, e ao mesmo tempo o choro para a morte, para o desespero.

[E]: Descobriu-se que a história contada por essa e outras músicas da banda são um pouco baseadas na própria vida do integrante Jeff Magnum. Ao longo do álbum, o sentimento de nostalgia da infância é muito presente.

As letras escritas por Magnum são super pessoais, mesmo que não sejam todas autobiográficas. Analisando o conjunto das faixas de Aeroplane Over The Sea, observa-se que o autor fala sobre Anne Frank (autora do diário que virou um dos maiores sucessos de livraria pois são os relatos cotidianos de uma menina que se escondeu dos oficiais nazistas durante a segunda guerra mundial por ser de família judia). Magnum fala da menina como se ele fosse um personagem que faz parte de sua história, um amante, que viu toda a perseguição acontecer, e enfim, a execução de Anne Frank, sob seus olhos, ainda um adolescente que não acredita na maldade do mundo. Que se pudesse escolher, continuaria para sempre vivendo os momentos felizes da juventude. Parece que o eu-lírico (seja ele o próprio Jeff ou um personagem da história de Anne Frank) não consegue, e nem quer se desvencilhar dos fantasmas do passado. Jeff afirmou que acreditava que existia um fantasma morando em sua casa. Fosse isso simplesmente imaginação de uma criança ou algo a mais, teve impacto na obra do músico.

[L]: Mesmo com toda essa profundidade a ser explorada, não adianta analisar filosoficamente Aeroplane, é questão de sentir a mensagem. A sensação será a mesma (ou parecida), mas as consequências e interpretações não. Alguns podem ter vontade, aquela tendência nudista a sair correndo pelado pela praia gritando.

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[Elisa]: To sabendo das suas tendências nudistas hein luca kkj

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[L]: Outros se imaginarão numa montanha, perto de uma fogueira. Outros ainda, sentirão aquele arrependimento, aquela vontade de pedir perdão ou de perdoar. Não sei mais o que dizer. Também não sei se estou sendo claro. Mas acho que esse é um pouco o risco do álbum: deixar-se levar e arriscar, sem lógica, sem sentido, sem critérios.

[Elisa]: De um certo modo, fico feliz que hoje em dia não tenha muitos jovens que escutam NMH. Mostra que a banda é especial para cada um que a ouve, não só uma dentre as bandas que tocam nas rádios alternativas. Cada fã tem o seu momento quando ouve Aeroplane Over The Sea, cada um dá o seu próprio significado.

[Luca]: Se você sentiu o quis dizer, fico muito feliz.

Para acabar, eu, como fã do álbum, sempre fiquei decepcionado por não ter tido mais álbuns do NMH. Outro dia, ao assistir um vídeo sobre Jeff, escutei algo que me fez mudar de ideia. Ao ser perguntado porque havia parado de produzir música, Jeff respondeu com muita franqueza: “Eu não havia mais o que dizer”.

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[E]: Nossa me manda essa entrevista do Jeff q ele fala isso pfvr eu quero casar c esse cara

[L]: Já te mando.

[L]: Cara não deleta a nossa conversa aqui no docs, tive uma ideia, depois te mostro.

[E]: Ok

[L]: Pronto, acabei, meu fluxo passou, fiquei até com dor de cabeça

[L]: Vou ler o seu

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O texto pode estar confuso, experimental, maluco, mas o que é a vida senão uma confusão, um experimento e uma maluquice ?



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